segunda-feira, 2 de junho de 2008

Pequena Homenagem a um Diácono

No último Sábado estive em Lisboa a assistir à ordenação do meu primo José Magalhães Cordeiro que agora é diácono da Igreja. Faço-te aqui uma pequena homenagem.

A carreira de padre é uma escolha corajosa e difícil nos tempos de hoje, e tu és uma pessoa especial, inteligente, sempre muito bem disposto, com um grande sentido de humor, que sempre teve uma ligação especial com crianças e jovens. Vais ser um excelente padre.

Todos temos que fazer escolhas. E escolher implica sacrifícios. E é pelas escolhas que faz que um homem se constrói e progride. Como tal, admiro o compromisso para toda a vida que tu fazes por aquilo em que acreditas como um gesto de uma fundura e profundidade tal que é raro hoje em dia.

O filósofo que mais influenciou minha vida, Soren Kierkegaard, era um padre protestante que no seu livro Fear and Trembling diz-nos:

No! No one shall be forgotten who was great in this world; but everyone was great in his own way, and everyone in proportion to the greatness of what he loved. For he who loved himself became great in himself, and he who loved others became great trough his devotion, but he who loved God became greater than all. (...)
one became great through expecting the possible, another by expecting the eternal; but he who expected the impossible became the greater than all.

(Tradução minha: Não! Ninguém será esquecido dos que foram grandes neste mundo; mas todos foram grandes à sua maneira e todos na proporção da grandeza daquilo que amaram. Pois aquele que se amou a si mesmo tornou-se grande em si mesmo, e aquele que amou outros tornou-se grande pela sua devoção, mas aquele que amou Deus foi o maior de todos. (...) Um tornou-se grande por esperar o possível, outro por esperar o eterno, mas aquele que esperou o impossível tornou-se o maior de todos.)

És um rapaz novo, bem parecido, e a tua escolha trará desgosto a muitas mulheres, é certo. Há até quem diga que a carreira de padre é uma castração. É verdade. Mas também, segundo Freud, somos todos castrados, não só os padres. Todos temos de aprender a reprimir pulsões e instintos sexuais de uma ou de outra maneira, a isso se chama muitas vezes "educação".

Queria por fim, Zé, deixar-te as palavras de um outro homem, Lanza del Vasto, católico fervoroso que viajou a pé de Itália até à Índia, que fala assim sobre a castidade:

"A castidade é a prova dos fortes. Apenas eles a defrontam vitoriosamente. Por um santo que ela conduz ao êxtase, quantos fracos vota ela ao ressequimento, à agrura, ao desespero, à angústia, à obsessão. Que a castidade não seja constrangimento mas libertação.
Que ela não seja uma repugnância contranatura, irrazoável ou desrazoável quase tanto como a inversão ou a desvergonha. Mostra-te livre, quer dizer desprendido, e não cativo da abstenção, crispado na recusa ou guindado na afectação. (...) A castidade vale o amor em nome do qual ela é mantida "

Boa sorte e um abraço do teu primo!

Um comentário:

Anônimo disse...

Está certo Lanza del Vasto, mas é delicado, tudo isto. Deixei de perceber. No entanto, tudo parecia claro num dado momento. Tornei-me confusa, mas pareci tão valente! Era mentira. Seria mentira, ou fui mesmo valente? Uma coisa é certa, alguma coisa falhou.