John Stezaker: Pairs series «VIII» 2007
"Fechou um pouco os olhos e olhou através da fenda das pálpebras a paisagem do rosto escancarado. E eis que ele se confundia com o rosto da própria paisagem, a orla dos cabelos continuando-se pela ramaria amarelada da floresta (...). Fenómeno tranquilizador e apavorante ao mesmo tempo, quando o olhar anulava assim o divórcio dos objectos, fundia o distinto numa matéria bizarramente homogénea, onde as espécies eram indiscerníveis, sentíamo-nos como que alerta, impressionados por uma recordação, reenviados a determinada coisa, que, fora de toda a convenção, residia no mais recôndito da infância e esse problema sem resposta parecia-se fosso com o que fosse que se ergue da memória como uma advertência. (...)
John Stezaker: Pairs series «III» 2007
E no fluxo das formas, fluxo tão suave como o escoamento da água e do nevoeiro de um pluvioso crepúsculo de Primavera, afigurou-se-lhe que o desmoronar-se tão temido do rosto humano num nada de bossas e depressões devia ser o primeiro estádio a caminho de uma nova e mais luminosa unidade na consonância de uma brumosa beatitude, não já cópia do rosto terreno, mas promessa da similitude divina, gota de cristal que cai, cantando, da nuvem.
E se aquele sublime rosto se despojava de toda a beleza e de toda a familiaridade terrena e parecia, talvez, de princípio, estranho e medonho, mais medonho ainda do que o apagamento do rosto na paisagem, isso só queria dizer que haviam dado o primeiro passo; nada mais era, sem dúvida, que um pressentimento anunciador do pavor divino, mas também a certeza da vida divina em que o terreno se transforma (...).
Hermann Broch em "Os Sonâmbulos" (1ª Parte: 1888 Pasenow ou o Romantismo)
E se aquele sublime rosto se despojava de toda a beleza e de toda a familiaridade terrena e parecia, talvez, de princípio, estranho e medonho, mais medonho ainda do que o apagamento do rosto na paisagem, isso só queria dizer que haviam dado o primeiro passo; nada mais era, sem dúvida, que um pressentimento anunciador do pavor divino, mas também a certeza da vida divina em que o terreno se transforma (...).
Hermann Broch em "Os Sonâmbulos" (1ª Parte: 1888 Pasenow ou o Romantismo)
3 comentários:
Olá companheiro de T.I.C. Numa coincidência que os motores de busca do cyberespaço banalizaram, encontrei o seu post sobre Bartleby de Melville quando iniciava o meu sobre o mesmo livro da Assírio e Alvim.
Depois li mais alguns textos do seu blog e reconheci pequenos fragmentos da minha própria visão do mundo. Sobretudo um certa paixão intelectual liberta, porque paixão, dos andamentos oficiais estabelecidos pelos maestros da correcção racional.
Estou, pois, contente por encontrar um companheiro de viagem.
Sim já não há coincidências na internet, mas sim sobre-incidências ou multi-incidências.
Já tive umas centenas largas de visitas que vêm cá ter por causa da imagem que uma vez coloquei de um "ponto G", o que é de uma utilidade extrema. Mas em boa verdade muito poucas dessas visitas me deram qualquer orgasmo.
Realmente, apraz-me muito mais ter visitas como tu, de gente com paixão intelectual, que é a coisa mais inútil deste mundo.
Irei também ver teu blog. Um abraço
Hello,nice post thanks for sharing?. I just joined and I am going to catch up by reading for a while. I hope I can join in soon.
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