sábado, 5 de setembro de 2009

Alan Badiou - Filosofia como Biografia

Encontrei uma transcrição de uma conferência muito interessante do filósofo e psicanalista marxista Alain Badiou, onde ele faz filosofia a partir de algumas histórias pessoais. Tomei a liberdade de traduzir parte do texto original em inglês. Também podem ver os vídeos da conferência, clicando nas imagens abaixo.

Parte 1

"Nietzsche disse que uma filosofia é sempre a biografia do filósofo. Talvez uma biografia do filósofo feita pelo próprio filósofo seja um pouco de filosofia. Assim, vou contar-vos nove histórias da minha vida privada, com a sua moral filosófica. A primeira história é a história do pai e da mãe.

Meu pai era formado na École Normale Superieure e professor de matemática. Minha mãe era formada na École Normale Superieure e professora de literatura. Eu sou formado na École Normale Superieure e professor, professor de quê... filosofia. Quer isso dizer, provavelmente, a única coisa possível de assumir dupla filiação e de circular livremente entre a maternidade literária e a paternidade matemática. Isto é em si uma lição de filosofia: a linguagem da filosofia constrói sempre o seu próprio espaço entre o matema e o poema, no fim de contas entre a mãe e o pai.

Alguém viu isso muito claramente: o meu colega do Collège de France, o filósofo analítico francês Jacques Bouveresse. Num livro recente em que ele faz o horror de falar de mim, compara-me a um coelho de cinco patas e diz concretamente: "Este coelho de cinco patas que é o Alan Badiou, corre a toda a velocidade na direcção do formalismo matemático, e depois, de repente, numa mudança incompreensível, dá uns passos atrás e corre na mesma velocidade atirando-se para a literatura." Bem, sim, é isso que dá um pai e uma mãe tão bem distribuídos: transformamo-nos num coelho.

Agora a segunda história: sobre mãe e filosofia.

Minha mãe era muito velha e meu pai não estava em Paris. Levava-a a comer num restaurante. Ela dizia-me nessas ocasiões tudo o que nunca me havia dito. Era a expressão final de ternura, tão comovente, que se tem com pais muito idosos. Uma noite contou-me que, antes de conhecer meu pai, quando estava a dar aulas na Argélia, teve uma paixão, uma paixão gigantesca, uma paixão voraz, por um professor de filosofia. Esta história é absolutamente autêntica. Eu ouvi, obviamente, na posição que se pode imaginar, e disse para mim mesmo: bem, foi isso, não fiz mais nada senão cumprir o desejo da minha mãe que o professor argelino de filosofia havia negado. Ele havia ficado com outra pessoa e eu fiz o que pude para ser a consolação da dor terrível da minha mãe que havia subsistido no seu interior até aos 81 anos.

A consequência que daqui retiro para a filosofia é, contrariamente à afirmação habitual segundo a qual "o fim da metafísica" está a ser cumprido e tudo isso, precisamente a filosofia não pode ter um fim, porque está assombrada, no seu interior, pela necessidade de dar mais um passo dentro de um problema que já existe. E eu acredito que é essa a sua natureza. A natureza da filosofia é que algo lhe está sendo eternamente deixado. Ela é responsável por esse legado. Estamos sempre a tratar do legado em si, dando sempre mais um passo na determinação do que lhe foi assim deixado. Eu próprio, da forma mais inconsciente, nunca fiz outra coisa enquanto filósofo senão responder a um apelo de que nunca tive conhecimento.

(...)

A quarta história é sobre amor e religião.

Antes de vir para Paris, vivia numa província. Sou um provinciano que veio para Paris um pouco tarde. E um dos aspectos que caracterizava a minha juventude provinciana é que a maioria das raparigas eram ainda educadas pela religião. Estas raparigas ainda eram guardadas e reservadas para um destino interessante, o que proporcionava uma figura importante à parada masculina: as diferentes maneiras de brilhar face a estas raparigas ainda piedosas, sendo a principal a de refutar a existência de Deus. Este era um importante exercício de sedução, pois não só era uma transgressão, mas também era brilhante do ponto de vista retórico quando se tinha os meios para o fazer.

Antes de conquistar as suas virtudes, as almas tinham de ser resgatadas para fora da Igreja. Qual dos dois era pior, isso cabe aos padres decidir. Mas fora disto vem a ideia que eu tinha muito cedo, que a mais argumentativa e a mais abstracta filosofia também constitui uma sedução. Uma sedução cuja base é sexual, não haja dúvidas sobre isso. É claro que a filosofia sempre argumentou contra a sedução das imagens e permaneço platónico nesse ponto. Mas também argumenta de forma a seduzir. Podemos assim compreender a função socrática da corrupção da juventude. Corromper a juventude significa ser, de forma sedutora, hostil ao regime normal de sedução. Mantenho e repito que o destino da filosofia é corromper a juventude, ensinar que a as seduções imediatas têm pouco valor, mas também que existe uma sedução superior. No final de contas, o jovem que consegue refutar a existência de Deus é mais sedutor do que aquele que apenas se propõe à rapariga. É um jogo de ténis. É uma boa razão para se tornar filósofo.

Isto é aquilo em que se tornou o lugar da questão do amor, como questão chave da própria filosofia, exactamente no sentido que já tinha para Platão em Symposium. A questão do amor está necessariamente no coração da filosofia, porque governa a questão do seu poder, a questão de como é que esta se endereça ao seu público, a questão da sua força de sedução. Neste ponto, creio que segui uma direcção muito difícil de Sócrates: "aquele que segue o caminho da revelação total deve começar muito novo a deixar-se levar pela beleza dos corpos".

A quinta história é marxista.

Naturalmente, a tradição da minha família era de esquerda. Meu pai legou-me duas imagens: a imagem do resistente anti-nazi durante a guerra, e depois a imagem do militante socialista no poder, pois ele foi presidente da câmara de uma grande cidade francesa, Toulouse, durante treze anos. A minha história é a história de uma ruptura com esta espécie de esquerda oficial.

Há dois períodos na história da minha ruptura com a esqueda oficial. A última, bem conhecida é o Maio de 68 e a sua continuação. A outra, menos conhecida, mais secreta e então muito mais activa. Em 1960 havia uma greve geral na Bélgica. Não vou entrar em detalhes. Fui enviado para cobrir esta greve como jornalista - fui várias vezes jornalista, escrevi, parece-me, centenas de artigos, talvez milhares. Conheci mineiros em greve. Haviam reorganizado toda a vida social do país, através da construção de um novo tipo de legitimidade popular. Emitiram até uma moeda nova. Assisti às suas assembleias e falei com eles. E daí em diante fiquei convencido, até ao dia em que hoje vos falo, que a filosofia está desse lado. "Desse lado" não é uma determinação social. Signigica: do lado do que é aí falado ou pronunciado, do lado dessa obscura parte da humanidade comum. Do lado da igualdade.

A máxima abstracta da filosofia é, necessariamente, a absoluta igualdade. Depois da minha experiência da greve dos mineiros da Bélgica, dei uma ordem filosófica a mim mesmo: "transforma a noção de verdade de tal maneira, que obedeça à máxima equalitária". É por isso que dou á verdade três atributos:

1) Depende de uma irupção, e não de uma estrutura. Qualquer verdade é nova, esta será a doutrina do evento.

2) Toda a verdade é universal, num sentido radical. a igualdade anónima-para-todos, a pureza-para-todos, constitui-a no seu ser, e esta será sua generalidade.

3) A verdade constitui o seu sujeito, e não o contrário. Este será o seu lado militante.

Tudo isso, numa total obscuridade, estava em acção quando conheci em 1960, os mineiros belgas.

(...)

A oitava história é uma história formal, ou uma história acerca de formas

(...) Há uma ligação intíma entre filosofia e matemática (uma ligação fortemente focada por Platão). Se os conceitos filosóficos são afinal, as formas dos conceitos da verdade, então este devem suportar a prova da sua formalização. Qualquer que seja esta prova. Todos os grandes filósofos submeteram o conceito a uma esmagadora e especulativa formalização. Penso que é por isso que a matemática permaneceu uma paixão para mim. Eu escrutino precisamente isto - na matemática: O que é o pensamento capaz, quando ele se dedica à pura forma? à literalidade da forma? E a conclusão que progressivamente retiro é que, o que ele é capaz, quando se ordena como pura forma, é pensar o ser como tal, o ser como ser. Daí resulta minha fórmula provocante segundo a qual a ontologia efectiva nada mais é do que matemática constituída. O que, obviamente, aos olhos do psicanalista, significa meu desejo de aí apenas sublimar a imagem do meu pai matemático.

A última história, a história número nove, é sobre os meus mestres.

(...) Nos anos decisivos da minha educação, tive três mestres: Sartre, Lacan e Althusser. Não foram mestres da mesma coisa.

O que Sartre me ensinou foi, simplesmente, o existencialismo. Mas o que significa o existencialismo? Significa que deve haver uma ligação entre o conceito, por um lado, e por outro deve haver a agência existencial da escolha, a agência da decisão vital. A convicção de que o conceito filosófico não vale uma hora de trabalho se, seja por mediações de grande complexidade, não reverberar, clarificar e ordenar a agência da escolha, da decisão vital. E nesse sentido, o conceito deve ser, também e sempre, um assunto da existência. Isto foi o que Sartre me ensinou.

Lacan ensinou-me a conexão, a ligação necessária entre uma teoria dos sujeitos e uma teoria das formas. Ele ensinou-me como e porque é que o próprio pensamento dos sujeitos, que tão frequentemente foi contraposto à teoria das formas, era na realidade apenas intelegível no quadro desta teoria. Ensinou-me que o sujeito era uma questão que não é de todo de um carácter psicológico, mas sim uma questão axiomática e fomal. Mais do que qualquer outra!

Althusser ensinou-me duas coisas: que não há objecto próprio da filosofia - isto era uma das suas grandes teses - mas que há orientações do pensamento, linhas de separação e, como Kant já havia dito, uma espécie de luta perpétua, uma luta que é sempre recomeçada de novo, em novas condições. Ele ensinou-me, consequentemente, o sentido de delimitação, do que se pode chamar delimitação. Em particular a convicção de que a filosofia não é um vago discurso da totalidade ou interpretação geral daquilo que é. Que a filosofia deve ser delimitada, que deve ser separada daquilo que não é filosofia. (...) No final, consegui conservar todos os meus mestres. Mantive Sartre apesar do desrespeito de que foi alvo durante muito tempo. Mantive Lacan apesar do que realmente deve ser chamado como sendo o carácter terrível dos seus discípulos. E mantive Althusser apesar das substanciais divergências políticas que nos opuseram, começando no Maio de 68. (...)

Manteho hoje que em filosofia os mestres são necessários; mantenho uma constitutiva hostilidade contra a tendência para a profissionalização democrática da filosofia e ao imperativo dominante hoje em dia e que humilha a juventude: "Sejam pequenos e trabalhem como equipa". Diria também que os mestres devem ser combinados e ultrapassados mas, afinal, é sempre desastroso negá-los.

(...) "Habitarei o meu nome": isto é precisamente o que a filosofia tenta tornar possível a todos e a cada um. Ou antes, a filosofia procura as condições formais, a possibilidade de cada um e de todos, de habitar o seu nome, de estar simplesmente aí, reconhecido por todos como aquele que habita o seu nome. E quem, desta forma, ao habitar o seu nome, é igual a qualquer outro.

É por isto que mobilizamos tantos recursos. E é também para isso que a nossa monótona biografia pode ser usada: para constantemente procurar de novo as condições pelas quais o próprio nome de cada um pode ser habitado.

Parte 2

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Jerónimo vs. Louçã

Era bom realmente, para quem está indeciso entre estes dois, ver algumas diferenças entre bloco e PC. No entanto, isso seria dar lenha à opinião vulgar de que PC e bloco são inimigos fratricidas à procura da medalha de bronze. Isso só favorece o bloco central.

Assim, a postura dos dois foi a mais acertada. E uma coisa é certa: em comparação com o debate de ontem entre Portas e Sócrates, repleto de golpes teatrais, demagogia, marketing, barulho, pedras, confusão e peixeirada, vimos um debate claramente mais civilizado, onde se falou mais de política, de economia, dos problemas do país e das suas possíveis soluções. A esquerda fica a ganhar.

Quanto aos que gostam de violência verbal, show-off, insultos gratuitos e que acham que isto foi uma seca, eu aconselho-os a ir a um parque de diversões.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Para uma Psicologia Social do Voto e da Abstenção

Ferdinand Lindner, An Electoral Philistine – The Doubtful Voter (c. 1890)


Vivemos um momento muito particular da nossa curta vida democrática: se tomarmos em consideração aquilo que foram os resultados das eleições europeias e ainda (mas com desconto) as várias sondagens que por aí pululam, nenhum dos dois partidos que tem habitualmente governado o país (PS-PSD) mostra grandes chances de obter uma maioria absoluta. Aquilo que é opinião de toda a gente, e que se ouve da boca de todos é o seguinte: os políticos são corruptos, mentirosos e oportunistas que só querem um tacho. A abstenção sempre foi até hoje, o maior representante deste descontentamento. São estes, no entanto, que paradoxalmente têm legitimado os governos falsamente maioritários que temos tido. Digo falsamente maioritários pois, segundo as contas que já aqui fiz uma vez, se a abstenção fosse considerada quando são apresentados os resultados das eleições, facilmente se perceberia que nunca tivemos um governo da preferência da maioria dos cidadãos. Nas últimas legislativas por exemplo, o PS não teve o voto de 45% dos cidadãos, mas sim de 28,93% do total de eleitores. Assim, chegamos ao seguinte paradoxo: abster-se de votar apenas legitima os governos desprezados precisamente por aqueles que não votam.

Isto leva-me ao ponto seguinte: um dos grandes falhanços das democracias é o facto de o ódio e o descontentamento político ser politicamente irrepresentável. Um exemplo perfeito disto são as eleições no Reino Unido de 2005: Tony Blair era segundo todas as sondagens, o homem mais impopular do Reino Unido. No entanto, este ódio não se reflectiu nos votos, na medida em que Tony Blair acabou por ganhar as eleições.

Por muito que os portugueses queiram dizer mal e mostrar o seu repúdio,quer através de votos nulos, brancos ou abstenção, na forma como funcionam a democracia quem está descontente com os governos PS/PSD/CDS-PP não se pode dar ao luxo de não votar pois, como já vimos, está apenas a reforçar o actual estado de coisas e a ajudar a manter os partidos no governo que tanto detesta.

Assim, face a esta conjuntura, e na tentativa de canalizar todo este ódio e desprezo, muitos optam pelo chamado "voto de protesto" e o "voto útil", que levanta um outro tipo de problemas: Um ponto fulcral da análise do processo de eleição é: todos votam condicionados pela representação que fazem dos "outros". Não é estranho que toda a gente diga mal dos partidos do poder (PS e PSD), mas que não vote noutros por considerar que não podem chegar a ser poder (por causa dos outros). O voto útil nada mais é do que "se eles votam assim, então terei necessidade de votar de determinada maneira". Temos também o "eu voto no BE porque sei que não vai ganhar". Há também o "não vou votar no partido x, pois não precisa do meu voto para ganhar". E assim se vai, sondagem a opinião, desvirtuando o real querer de um povo. E é assim que, PS e PSD são os partidos mais detestados dos portugueses, apesar de serem estes os mais votados.

No entanto, não são só os eleitores que participam politicamente neste paradoxo. Também os partidos do poder, curiosamente, se alimentam do próprio ódio ao poder. Basta pensar no Sócrates que diz assim: "só pode haver um primeiro ministro: se não querem seja a Ferreira Leite votem em mim". Já a Ferreira Leite diz: "se não gostam do Sócrates votem em mim."

A democracia nestes termos, funciona de forma perversa: o cidadão vota de acordo com uma representação social de um povo que, por sua vez, é construída por cidadãos que votam consoante o que os outros votam; os partidos do poder fazem política adaptando-se a essa ilusória representação social, que na verdade não é ilusória na medida em que todos participam dela. Zizek sobre isto dá o exemplo do Natal: os pais alimentam o mito do Pai Natal para que as crianças não percam a fantasia. As crianças sabem que o Pai Natal não existe, que são os pais que compram as prendas mas participam nessa ilusão de forma a não desiludir os pais. Assim, ninguém acredita verdadeiramente no Natal, muito embora toda a gente participe da mesma ilusão.

Para se compreender melhor este paradoxo, faço aqui alusão a uma experiência paradigmática da Psicologia Social. Nesta experiência de Solomon Asch de 1951, 8 sujeitos foram colocados diante de um quadro com varias cartolinas. Cada cartolina continha do lado esquerdo um linha vertical (figura de base) e à direita três linhas verticais de comprimentos diferentes, numeradas de 1 a 3, uma das quais representava a linha de base.

No grupo experimental, apenas um dos sujeitos é o verdadeiro sujeito experimental, e por isso é o sujeito ingénuo, enquanto os restantes 7, são comparsas do experimentador. Cada um dos sujeitos dá a avaliação em voz alta, sendo que os comparsas dão doze respostas erradas em dezoito ensaios experimentais. Estes respondem antes do sujeito. Deste modo, o sujeito ingénuo encontra-se numa posição minoritária e, apesar de não existir qualquer tipo de pressão explícita por parte do grupo, este chega a cometer erros que atingem os 5 cm. 75% dos sujeitos conformaram-se à opinião errada da maioria, pelo menos uma vez.

É claro que nem todos os indivíduos são influenciados por este efeito de conformismo. Uma das explicações possíveis para indivíduos que não cedem à opinião da maioria é a de que estes indivíduos são mais seguros, não necessitando do apoio do grupo. Outro aspecto que também contribui para minorar o efeito do conformismo é o seguinte: basta a presença de um dissidente no grupo para baixar drasticamente o nível de conformidade de 32% para 6% das tentativas. Sobre este último aspecto, Moscovici fez importantes variações da experiência de Asch precisamente acerca da influência da minoria sobre a maioria. Assim, na experiência de Moscovici, em vez de um único sujeito no meio de um grupo de cúmplices, os investigadores decidiram colocar quatro sujeitos num grupo com mais dois cúmplices (que davam sempre respostas incorrectas. Assim, os participantes cúmplices estavam em minoria. Os resultados mostraram que a minoria era capaz de influenciar cerca de 32% dos sujeitos a darem pelo menos uma resposta incorrecta.

Há consequências deste estudo que podem ser aproveitados do ponto de vista político. Para já, o "voto útil", parece encaixar perfeitamente num efeito de conformismo, visto na experiência de Asch. Já a experiência de Moscovici demonstra, quanto a mim, o quão são importantes os movimentos políticos minoritários, na medida em que possibilitam aos sujeitos que não comungam da opinião da maioria, um cúmplice que facilita uma expressão dessa mesma opinião divergente. Assim, é extremamente saudável termos partidos pequenos que possibilitam a expressão de uma opinião divergente da maioria, possibilitando a inovação e progresso social, para lá dos blocos bipolares partidários, que estimulam o conformismo.

Assim, para concluir deixo a seguinte recomendação: há que votar, não por ódio, nem por "utilidade", mas sim votar-se no partido que, no conjunto das suas propostas, nos identificamos individualmente, sem fazer calculismos nem olhar a sondagens. Há que votar, não no partido que vai fazer melhor oposição (mesmo que provavelmente seja esse o caso), mas sim no partido que consideramos que faria o melhor governo (ou o menos mau). Em suma, há que votar honestamente e de forma positiva, e não em nome de um medo de instabilidade ou por oposição a outro partido qualquer.

(Já agora, se há indecisos quanto a esta matéria, e que não queiram ler os espessos programas dos partidos, aconselho a seguinte bússola eleitoral. Basta responder a algumas perguntas, e ser-lhe-á apresentado o partido que mais se ajusta às suas opiniões políticas nas várias áreas. Não é perfeito, devido a algumas ligeiras imprecisões na forma ambígua como são colocadas determinadas perguntas, mas é um questionário bastante interessante. Podem acontecer surpresas! No meu caso pessoal, o meu partido de sempre é o PCP, muito embora admita que o programa eleitoral do BE para estas legislativas me surpreendeu positivamente. No entanto, inesperadamente ou talvez não, o partido que segundo esta bússola eleitoral mais se ajusta às minhas respostas é o... PCTP-MRPP!)