sábado, 12 de janeiro de 2008

Democracias

O conceito de democracia é uma verdadeira mitologia dos tempos que ocorre. Baseia-se na noção de que todos os homens são iguais e no facto de que, ao por todas as pessoas a por uma cruz num de vários quadrados de um boletim, de 4 em 4 anos, está assegurada uma forma de governo justa e fundadada nos reais anseios do povo.
A primeira noção, a de que todos os homens são iguais, não a comento. A segunda, de que uma cruz num quadrado é o garante de liberdade e auto-determinação dos povos, faz-me pensar que nunca chegámos a avançar muito nas práticas da democracia desde que ela foi inventada. Ela é no máximo, uma má estatística, um teste psicológico muito fraquinho. Imaginem que vos passavam um teste de personalidade em que tinham de escolher entre somente quatro opções, personalidade rosa, amarela, laranja, vermelha e vermelho choque. A pessoa escolheria a cor amarela e dir-se ia que tem uma personalidade amarela. Imaginem agora fazer esse teste a todas as pessoas de Portugal e chegavam ao fim e diziam, os portugueses são amarelos. Imaginem agora representantes das vários tipos de cores de pessoas, e os amarelos festejavam todos vestidos de amarelo o facto de os portugueses terem gostado do amarelo. Fazem discursos grandes e dizem, sim portugueses, obrigado por terem escolhido amarelo, sentimos que querem deste portugal um bom portugal, um portugal amarelo!
Este cenário parece surrealista, mas é este é de facto o golpe de teatro fundador das nossas orgulhosas e vaidosas nações ocidentais desenvolvidas.
Penso que é possível fazer muito mais para por as pessoas de facto a tomar em suas mãos o controlo e o poder de decidir as questões que dizem respeito ao seu país.
Acho que existem muitas pessoas que vêem logo o logro que está envolvido que no acto de votar, na estupidez de votar amarelo ou rosa, como se isso fosse representativo de mim, como se isso pudesse ser usado legitimamente para representar alguém que vai fazer longos discursos amarelos e que acham absurdo a noção de voto como ela se nos apresenta. E essas pessoas não votam. É a chamada abstenção. São a classe política mais injustiçada de todas. Minto, a mais injustiçada são os que votam em branco ou voto nulo.

Face a isto eu tenho uma proposta. Se votamos nas eleições legislativas para por um bando de indivíduos a fazer leis num parlamento, acho que é perfeitamente justificável que, havendo já tantas leis, se evite votar para haver proliferação de leis. Isto evitaria situações como aquela lei americana do estado de Kentucky que diz que "Nenhuma mulher deve aparecer em fato de banho em qualquer auto-estrada do estado, a não ser que venha escoltada por, pelo menos, dois polícias ou, em alternativa, venha armada com um bastão", ou então esta da Florida em "é ilegal uma senhora solteira, divorciada ou viúva fazer pára-quedismo aos Domingos à tarde".
Devia haver uma maneira de protestar contra a democracia na maneira como ela é conduzida, sem deixar que alguém pegue no nosso descontentamento para apregoar discursos vaidosos. Trata-se aqui de dar legitimidade política à abstenção.
O que eu proponho é que os votos não realizados, em branco ou nulos, passem a ser representados no parlamento por lugares vazios. O que há na verdade é um roubo de lugares que justamente não deviam pertencer a ninguém. Se fizerem as contas das legislativas de 2005, vão descobrir que existiram 3196674 abstenções, 103537 votos brancos, e 65515 votos nulos. São ao todo 3365726 portugueses que desaparecem num golpe de mágica quando se anuncia que o PS ganhou por 45%. A seguir começam as barbaridades, começa-se a dizer que metade dos portugueses votou no PS, etc.
Estes 45% são a parte apenas dos votos contados, e não uma percentagem do total dos eleitores possíveis. Eu dei-me ao trabalho de fazer as contas:
Primeiro temos as estatísticas oficiais:















E agora, os resultados reais, onde na verdade não foi o PS que ganhou as eleições, mas sim a abstenção.


As consequências da minha proposta ser levada à frente, é que todos os partidos políticos teriam menos deputados. Seriam ao todo 86 lugares vazios no parlamento. Para aprovar qualquer lei, o Partido Socialista teria que fazer uma coligação como PSD, mas nem isso chegaria para chegarem a ser maioria no parlamento. Seriam obrigados a negociar com o O PCP, Os Verdes, O Bloco de Esquerda e o CDS/PP.
A vida política ia ficar mais animada e mais interessante. Todos os partidos teriam de parar com as acusações mútuas e procurar fazer uso em conjunto da precária legitimidade que têm para fazer leis, ao invés da arrogância e da vaidosice que por aí grassa nesses meios. Acho que as vantagens da minha proposta seriam tais que, paradoxalmente a abstenção iria baixar.

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