quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Paranóia, Amor, Genoma Humano e Revolução.

No artigo de Slavoj Zizek: "Censorship Today: Violence, or Ecology as a New Opium for the Masses", é abordada a noção problemática hoje em dia da propriedade intelectual. Bill Gates construiu seu império económico na informática fundamentando-se em noções extremas do conhecimento ser tratado como se fosse proprieade real.
Do ponto de vista psicológico, sentir que o nosso pensamento não nos pertence, ou que é algo que pode ser roubado, pode ser um critério para diagnóstico de paranóia.
As complicações legais quanto à propriedade intelectual hoje em dia levantam muitas questões legais pela cada vez mais facilidade em copiar e transmitir a informação (através de blogs por exemplo) começa a ser propriamente normal que alguém se queixe que o seu pensamento está a ser roubado, principalmente se estiver a perder dinheiro com isso.

No livro que mostrei aqui há uns tempos do George Steiner, ele diz que “a revolução científico-tecnológica que domina a consciência social e psicológica do Ocidente desde o séc. XVI levou a que toda a concepção de verdade ganhe um rigor mais especial (…). O carácter lógico e matemático das proposições que incorporam a verdade aumenta grandemente a sua abstracção, neutralidade e impessoalidade. Os homens começam a sentir que a verdade está algures “lá fora”.
Quanto a este “algures lá fora", Steiner admite não conseguir precisar muito bem esta ideia. Mas esse “lá fora” é nem mais nem menos do que o Corpo sem Órgãos de que nos anos 70, Gilles Deleuze e Félix Guattari falam no Anti-Édipo – Capitalismo e Esquizofrenia: um fluxo de desterritorialização capitalista que liga o corpo à máquina através de cortes e recortes dos fluxos de desejo: “As nossas sociedades procederam (…) a uma vasta privatização dos órgãos, que corresponde à descodificação dos fluxos que se tornaram abstractos”
Não é isto de que se trata quando na Índia, comunidades locais subitamente descobrem que as práticas médicas e os materiais que usam há séculos, são agora propriedade de companhias americanas e devem ser compradas a estas? As companhias biogenéticas entretanto fazem a patente de genes e descobrimos agora que partes de nós próprios, os nossos componentes genéticos, já estão “copyrighted”, propriedade de outros.
Como sair então desta armadilha preparada por este tipo de sociedade demente, burocrata, tecnocrata, narcisista e obsessiva? Deleuze detestava metáforas. É por isso que ele dizia que “na realidade a sexualidade está em todo o lado: no modo como um burocrata acaricia os seus dossiers, um juiz faz justiça, um homem de negócios faz circular o dinheiro, a burguesia enraba o proletariado, etc. E não é preciso recorrer a metáforas tal como a libido não recorre a metamorfoses”

Desde a repressão sexual na sociedade Vienense da época de Freud até hoje, de facto não avançámos muito. Se antes evitava-se o sexo, as relações eram frias e as pessoas ficavam doentes mentais por causa disso, hoje em dia passou-se a regulamentar de tal forma o sexo, que há manuais para tudo e então as relações tornam-se altamente artificais e a sexualidade mais fetichista. Sim, é possível ver em qualquer revista de mulher: “conquiste qualquer homem em 10 passos”.

É precisamente a este nível que falamos de uma sociedade burocrata e tecnocrata. O erro é sempre o mesmo: a previsibilidade do outro. Quando definimos um processo de sedução em 10 passos, não há aqui uma abertura ao outro, o que há é uma ritualização de processos, o seguir de uma fórmula para ser aplicada, para cuidadosamente não termos que nos confrontar com o outro na sua totalidade, que também é também imprevisível, corporal, inconsciente. Na verdade o que aqui se trata é do velhinho combate entre a emoção e o corpo, a razão e a emoção, que são o sumo das neuroses comuns das pessoas civilizadas. A indústria Biogenética mais não é do que a tentativa desesperada de cobrir completamente o outro de fórmulas abstractas, tentando pré-determinar todas as potencialidades de cada gene, para assim, podermos olhar para um humano e, através de uma amostra de ADN, poder prever as suas acções, querendo eliminar qualquer hipótese de "o outro" fazer qualquer coisa de inesperado, de ousado de diferente, com medo que qualquer coisa de emocional se transmita, como um vírus. É esta alergia a um contacto genúino com os outro que move a ciência.
No entanto estas tentativas poderão sair frustradas... pela própria ciência.
Senão vejam notícias recentíssimas de um grupo de cientistas que tentam codificar o genoma humano.

Segundo Guigó, os estudiosos pensavam que os genes se relacionavam "como as contas de um colar", com as fronteiras entre eles sendo definidas e delimitadas. Dessa vez, no entanto, os cientistas perceberam que, às vezes, é difícil distinguir alguns genes de outros porque eles se sobrepõem e podem inclusive formarem conjuntos. Dessa forma, há dificuldades para determinar qual é a quantidade precisa de genes do genoma humano, que poderia ser de 20 mil a 30 mil.
Mas mais interessante do que isto são as seguintes experiências. A primeira, levada a cabo por militares, foram recolhidas amostras de leucócitos (células sanguíneas brancas) de um número de doadores. Essas amostras foram colocadas em um local equipado com um aparelho de medição das mudanças eléctricas. Nessa experiência, o doador era colocado num local e submetido a “estímulos emocionais” provenientes de videoclips que geravam emoções ao doador. O DNA era colocado em um lugar diferente do que se encontrava o doador, mas no mesmo edifício.
Ambos, doador e seu DNA, eram monitorizados e quando o doador mostrava seus altos e baixos emocionais (medidos em ondas elétricas) o DNA expressava respostas idênticas ao mesmo tempo. Não houve lapso e retardo de tempo de transmissão.
Os altos e baixos do DNA coincidiram exactamente com os altos e baixos do doador. Os militares queriam saber o quão distantes podiam ser separados o doador e seu DNA para continuarem a observar o mesmo efeito. Pararam de experimentar quando a separação atingiu 80 quilómetros entre o DNA e seu doador e continuaram tendo o mesmo resultado. Sem lapso e sem retardo de transmissão. O DNA e o doador tiveram as mesmas respostas ao mesmo tempo.
Uma segunda experiência foi realizada pelo Instituto Heart Math e o documento que lhe dá suporte tem este título: Efeitos locais e não locais de freqüências coerentes do coração e alterações na conformação do DNA. Nessa experiência pegou-se em DNA de placenta humana (a forma mais “pura” de DNA) e colocou-se num recipiente onde se podia medir suas alterações. 28 amostras foram distribuídas, em tubos de ensaio, ao mesmo número de pesquisadores previamente treinados. Cada pesquisador havia sido treinado a gerar e sentir sentimentos, e cada um deles manifestava fortes emoções.
O que se descobriu foi que o DNA mudou de forma de acordo com os sentimentos dos pesquisadores.
Quando os pesquisadores sentiram gratidão, amor e apreço, o DNA respondeu relaxando-se e seus filamentos esticaram. O DNA tornou-se mais grosso.
Quando os pesquisadores sentiram raiva, medo ou stress, o DNA respondeu ficando mais apertado. Tornou-se mais curto e apagou vários códigos.
Os códigos de DNA ligaram-se novamente quando os pesquisadores tiveram sentimentos de amor, alegria, gratidão e apreço. Essa experiência foi aplicada posteriormente a pacientes com HIV positivo. Descobriram que os sentimentos de amor, gratidão e apreço criaram respostas de imunidade 300.000 vezes maiores que a que tiveram sem eles.

Se os sentimentos genuínos alteram o DNA, de um ponto de vista político, penso que isto é bom para as classes baixas, que não têm de pagar um cêntimo para verem alterado o seu ADN, e mau para quem pretende enriquecer à custa do ADN e vai ver seus planos frustrados por não conseguir fazer melhor que a natureza, presente em todos nós. Lembremo-nos da fórmula de Albert Cossery: aquilo que toda a gente tem, não tem valor de troca.
Isto porque a economia nunca vende a coisa mesmo, o original, ou seja uma emoção genuína. Porque se é vendida, já não é genuína: a mercadoria nunca cumpre a sua promessa implícita, esse "algo mais". Isto é perfeitamente demonstrável com o exemplo de uma prostituta. Não é por acaso que é a profissão mais antiga do mundo: é o exemplo perfeito para compreender a junção de Marx e Freud na compreensão do mundo civilizado. O homem paga à mulher para fazerem amor, mas o que daí resulta não são emoções genuínas mas sim um conjunto de actos mecânicos estereotipados, em que o a mulher apenas representa gemidos que sejam suficientemente convincentes, e o homem se sente culpado por achar que não consegiu dar prazer à mulher. A estrutura da mercadoria da prostituta é assim a mesma da do café descafeinado e da cerveja sem álcool de que fala Zizek. Se quiserem vejam no post mais abaixo um vídeo que postei dele.

Desta forma, cultivar bons sentimentos genuínos para com os outros é um acto anti-utilitarista e anti-pragmatista, e portanto, revolucionário. Apetece assim reformular o lema de Lenine: “operários de todo o mundo, uni-vos” para um simples "Operários de todo o mundo, amai-vos uns aos outros”. Eu sei que essa última parte da é de Jesus, mas é isto é como aquela música dos Pear Jam “Love Boat Captain”: “Its already been sung, but it cant be said enough, All you need is love”
Eddie Vedder cita aqui John Lennon e dedica-a também a 9 pessoas que morreram num concerto deles e deixo aqui o vídeo de uma das músicas que mais amo dos pearl jam. Reparem na letra.

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