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"Você não é um peixe," replicou seu amigo, "Então você não pode saber se eles estão felizes."
"Você não é Chuang Tzu," disse Chuang Tzu, "Então como você sabe que eu não sei que os peixes estão felizes?"
Conto Zen
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Carl Jung em "Sincronicidade"
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"O escaravelho de ouro" de Edgar Allan Poe em "Histórias extraordinárias"
O que é uma coincidência? O que tem de tão mágico e especial? Suponhamos dois amigos que conversam no café uma conversa própria de se ter num café ou nem por isso. Um deles pensa para si mesmo como seria bom sair dali e ir até ao parque, para ter uma conversa de parque ou outra qualquer. Nisto, eis que do outro amigo saem umas palavras ingénuas da sua boca dizendo: “estava a pensar ir até ao parque, estamos lá melhor”.Pasmado, o primeiro amigo não sabe que dizer. Como é que ele se foi lembrar da mesma coisa que eu ao mesmo tempo, pensa ele.
Toda a gente sabe o que isto é, ou seja, a toda a gente já deve ter acontecido algo do género, o que nos deixa sempre com uma sensação de magia e transcendência que não conseguimos confirmar nem desmentir.
Foi no sentido desse confirmar ou desmentir que segundo o nosso amigo Freud, inventámos o princípio da realidade. Passar de um modo alucinatório do pensamento, nos tempos em que para o bicho humano só existia sonho, para um modo de realidade, em que tentamos estabelecer o que é verdade e o que é mentira, o que é real e o que não é, e o que veio primeiro e o que vem a seguir neste caótico mundo que nos rodeia e do qual somos parte, de uma forma paradoxal.
É fácil dizer que, ao beber o copo de água, que ele estava cheio, que depois bebi o copo e pousei-o vazio. É o que o bicho humano faz a toda a hora e a cada momento, e quase que não conseguimos imaginarmo-nos doutra maneira. Contamos o tempo, os segundos, os metros, os quilómetros, o que veio primeiro e o que veio a seguir. E foi assim que inventámos o tempo.
Na verdade, antes de nós já havia outros bichos, os que andavam na água, mais tarde, os que andam na terra e os que andam no ar. Na verdade, há quem diga que, a uma certa altura, tudo o que é vivo era exclusivo da água. Os bichos que andavam na água, os peixes.
O que é uma coincidência? O que tem de tão mágico e especial? Suponhamos dois amigos que conversam no café uma conversa própria de se ter num café ou nem por isso. Um deles pensa para si mesmo como seria bom sair dali e ir até ao parque, para ter uma conversa de parque ou outra qualquer. Nisto, eis que do outro amigo saem umas palavras ingénuas da sua boca dizendo: “estava a pensar ir até ao parque, estamos lá melhor”.Pasmado, o primeiro amigo não sabe que dizer. Como é que ele se foi lembrar da mesma coisa que eu ao mesmo tempo, pensa ele.
Toda a gente sabe o que isto é, ou seja, a toda a gente já deve ter acontecido algo do género, o que nos deixa sempre com uma sensação de magia e transcendência que não conseguimos confirmar nem desmentir.
Foi no sentido desse confirmar ou desmentir que segundo o nosso amigo Freud, inventámos o princípio da realidade. Passar de um modo alucinatório do pensamento, nos tempos em que para o bicho humano só existia sonho, para um modo de realidade, em que tentamos estabelecer o que é verdade e o que é mentira, o que é real e o que não é, e o que veio primeiro e o que vem a seguir neste caótico mundo que nos rodeia e do qual somos parte, de uma forma paradoxal.
É fácil dizer que, ao beber o copo de água, que ele estava cheio, que depois bebi o copo e pousei-o vazio. É o que o bicho humano faz a toda a hora e a cada momento, e quase que não conseguimos imaginarmo-nos doutra maneira. Contamos o tempo, os segundos, os metros, os quilómetros, o que veio primeiro e o que veio a seguir. E foi assim que inventámos o tempo.
Na verdade, antes de nós já havia outros bichos, os que andavam na água, mais tarde, os que andam na terra e os que andam no ar. Na verdade, há quem diga que, a uma certa altura, tudo o que é vivo era exclusivo da água. Os bichos que andavam na água, os peixes.
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"O Peixe", D.H. Lawrence
O bicho peixe é assim. O mundo para eles é sensações ao longo das barbatanas e das escamas. Não sabe nem compreende nada. Há também as aves, e estes são bichos parecidos, embora às vezes pousem as patas na terra. Se calhar já foram quadrúpedes como nós também já o fomos. A diferença essencial é essa. Refiro-me ao que Deleuze e Guattari entendiam por desterritorialização e reterritorialização. Houve ao momento em que éramos muito peludos e andávamos com as quatros patas no chão. Depois houve um bicho que se levantou e deixou-se estar assim sem fazer das mãos asas como as aves, e sem no entanto voltar a pô-las no chão. As mãos, que antes usávamos para agarrar o chão e o território como fazem os cães, passaram a ficar suspensas entre o céu e a terra.
E o bicho humano nasceu porque passou a ter um território privilegiado, que tem os seus limites no chão opaco e concreto por baixo, e por outro lado, tem o limite de cima, que não tem fim conhecido, que se estende até aos confins do universo. E essa é uma das angústias primordiais do bicho humano. Está permanentemente obrigado a fazer uma ponte entre o finito e o infinito, a estar na terra a olhar para as estrelas, o sol e a lua, mas de mãos a abanar. Que território é este que temos em frente? Como é que algo assim pode ser sentido como nosso? Como vamos sobreviver aqui? As mãos são suficientes para apalpar um palmo de terra, um de cada vez, mas não consegue apalpar o intervalo entre o céu e a terra. A divisão teve que ser feita noutro lugar, num cérebro talvez, e de uma forma abstracta que não ocupe lugar e que nos deixa de mãos a abanar. Como disse Nietzsche, o homem é uma corda esticada sobre o abismo, entre o animal e o super-homem.
Com os nossos dez dedos, começámos talvez por contar estrelas, sem nunca as podermos agarrar. E foi aí talvez que apareceu a matemática, e outras coisas. Mas nossos cérebros primitivos, que até então só serviam para sonhar e para desejar, tiveram que começar a acomodar números e medidas que são a ligação que arranjámos para com este território novo que nos deixa de mãos a abanar. E este território só poderia então ser partilhado entre bichos humanos desta forma. Percebe-se o bicho que sentiu necessidade de escrever os seus mamutes na gruta, para dizer quantos eram. Começou ai a linguagem, e também o tempo, porque nós ainda olhamos para o céu como o cão que põe uma pata primeiro no chão, e depois põe a outra. Primeiro uma, e depois outra. Foi assim que inventámos o tempo, que mais não é do que por as coisas umas a seguir às outras, encadear acontecimentos. Em consequência, inventámos a causalidade, o dizer que isto aconteceu porque teve uma causa, e a causa porque teve uma causa. Não poderíamos fazer isto sem a noção de tempo.
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Um comentário:
Lindo! Comevente! ^^
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