Na Alemanha, costumava-se vender cerca de 500 exemplares por ano de "O Capital" de Karl Marx. Este ano já se venderam mais de 1500. No mesmo artigo onde vi isto, dá-se conta de uma sondagem feita a alemães de leste que diz que 52% perderam a confiança no mercado livre, e que 43% gostava de voltar a uma economia socialista. Vejam o resto do artigo aqui.
Ah, hoje vi na capa da Visão o seguinte título "Fukuyama diz o que vai mudar no capitalismo". Incrível vindo do homem que dizia que a História tinha acabado. Bastou-me ler o título.
Neste estado de coisas, é sempre bom voltar ao situacionismo de Raoul Vaneigem, com o seu livro "A Economia Parasitária", de 1996. Selecciono aqui algumas passagens:

As sociedades só mudaram em função das mudanças exigidas por uma economia tributária dos progressos da mercadoria e do trabalho que corrigia a sua execução. A preponderância da agricultura cede terrreno à indústria sob a pressão do comércio e da livre circulação dos bens.
O novo modo de produção, por sua vez, cai em desuso em proveito de um vasto circuito de consumo em que a mercadoria ganha mais em distribuir-se do que em manufacturar-se. Mais rendível, em suma, que a produção e o consumo, a gestão do capital leva a melhor, deixando o planeta entregue ao estado de património fundiário apto para a rendibilidade e inapto para o investimento. (...) uma economia extenuada dedica-se zelosamente a sacar os seus derradeiros benefícios e a concentrá-los no círculo duma especulação internacional onde a sua inutilidade tem cotação na bolsa. (...)
A proliferação da inutilidade e a rarefacção do primordial não podiam encontrar uma forma mais adequada de expressão do que a burocracia financeira internacional, cujo absolutismo estabelece com a sociedade viva uma relação de extraterrestre (...)
A nossa época situa-se no ponto de confluência e de divergência de duas sociedades que rejeitamos, uma porque produz a morte, a outra porque prefere à vida a sua mentira lucrativa.
A cibernetização dos lucros prepara-se para reduzir ao mínimo um trabalho condenado em virtude da sua rendibilidade decrescente. O desemprego, as reduções de salários e a supressão das regalias sociais expõe nas tabelas mundiais das cotações bolsistas os mandamentos do Deus caprichoso que reina nos mercados e nos lares. Cada qual se vê obrigado a sacrificar-se-lhe como ao velho Jeová, que, oprimindo os seus fiéis com desgraças, os ameaçava com outras ainda maiores se deixassem de os adorar. Ora, ao contrário da sobrevivência, a vida não é competitiva. (...)
