terça-feira, 4 de março de 2008

Sonambulismo, Arbeit Macht Frei, e Kierkegaard

Foi publicado um estudo que diz que um em cada cinco americanos perdeu interesse no sexo. Esta baixa na libido americana deve-se a graves problemas de sono: cerca de 50 milhões de americanos sofrem de problemas de sono, 36% de toda a população já adormeceu a ao volante.
Os americanos dormem em média 6 horas e 40 minutos por dia.

O estilo de vida americano, com as horas e os minutos todos contados, três empregos e quilos de cafeína e açúcar não deixa muito espaço para dormir e sonhar. De facto dormir, é uma perda de tempo, pois enquanto se dorme não se faz dinheiro. Aliás, já há americanos a trabalhar 30 horas por dia, no sector financeiro. Pois enquanto é noite na América, estão abertas bolsas noutro lado do mundo, em Hong-Kong por exemplo, que é preciso acompanhar.

Os americanos e a civilização que inventaram, sofre de demasiada consciência, de um ego demasiado vigilante, de um utilitarismo extremo que não deixa espaço ao sonho. Falta um espaço para sonhar, para o inconsciente. E esse espaço precisa de um tempo. Um tempo para não haver tempo. Quando toda a nossa vida está massacrada pela noção abstracta de tempo, o que há é uma sensação de urgência permanente. Este estilo de vida está bem expresso em filmes catástrofe, ou em séries como 24, que funcionam em "tempo real".

Esta reificação da noção abstracta do tempo faz de nós autênticos robôs. Privados do sono normal, perdemos capacidade crítica, somos mais conformistas, não pensamos tão bem. Simplesmente, se não sonhássemos, não poderíamos sequer ser capazes de pensar. Quem vive sem sonho só resta sonhar acordado num sonambulismo zombie. Há muitas seitas que privam os seus fieis do tempo normal de sono para assim eles se conformarem mais, e estarem mais sugestionáveis. Só assim é que se consegue pôr massas inteiras de pessoas em rituais, todas iguais, feitos carneiros.

Na alemanha Nazi, os campos de concentração tinham a seguinte divisa à porta: "Arbeit Macht Frei", que quer dizer: "O trabalho liberta". Uma apresentadora alemã foi despedida por dizer estas três palavrinhas num programa de televisão, a um senhor em linha que dizia estar atrasado para o emprego.Vejam aqui: http://www.publico.clix.pt/videos/?v=20080201181927&z=1

Um exagero. Os alemães não entendem uma piada. Na verdade, trata-se de pura ironia.
Soren Kierkegaard certamente entendia isto:
"Of all ridiculous things in the world what strikes me as most ridiculous of all is being busy in the world, to be a man quick to his meals and quick to his work. So, when, at the crucial moment, I see a fly settle on such a businessman's nose, or he is bespattered by a carriage which passes him by in even greater haste, or the drawbridge is raised, or a tile falls from the roof and strikes him dead, i laugh from the bottom of my heart. And who could help laughing? For what do they achieve, these busy botchers? Are they not like the housewife who, in confusion at the fire in her house, saved the fire-tongs? What else do they salvage from the great fire of life?" Soren Kierkegaard

Entretanto, o grupo de rock indie britânico "Libertines" tem esta música de um minuto só chamada "Arbeit Macht Frei", que eu decidi por aqui em honra do povo americano.

Um comentário:

Anônimo disse...

Tudo muito bom, tudo muito bem, somos fãs e tal, mas Libertines não pode.