sexta-feira, 8 de agosto de 2008

A Música, Kierkegaard e os Estádios Eróticos Imediatos de Siddhartha Gautama e Nick Drake

O sentido da audição é o primeiro a desenvolver-se no ser humano, e é o mais fino no desenvolvimento das noções de sequência e de tempo. Sem estas noções está comprometida a capacidade de entender significados, comunicação, mensagem etc. Depois, toda a linguagem e comunicação não pode existir sem afectos, amor e relações de empatia. E a música é o melhor meio de exprimir o espírito da sensualidade.

Kierkegaard tem sobre esta questão uma reflexão interessante em "Estádios Eróticos Imediatos" que desenvolve na forma de comentário à ópera Don Giovanni de Mozart:

"The most abstract ideia conceivable is the spirit of sensuality. But in what medium can it be represented? Only in music.
It cannot be represented in sculpturem for in itself it is a kind of quality of inwardness. It cannot be painted, for it cannot be grasped in fixed contours, it is a energy, a storm, impatience, passion, and so on, in all their lyrical quality, existing not in a single moment but in a succession of moments, (...) it is not an epic, for it has not reached the level of words; it moves constantly in an immediacy. Nor can it be represented, therefore, in poetry. The only medium that can represent it is music. For music has an element of time in it yet it does not lapse in time"

Também Siddartha Gautama obteve a sua iluminação quando ouviu o som do rio a correr e nunca mais deixou de estar sintonizado com aquele rio. As pessoas iam ter com ele, aquele que mais tarde seria conhecido como Buda, e ele levava-os de uma margem para a outra, muitas das vezes sem saberem que estavam perante quem procuravam.

Nick Drake, esse cantor que morreu jovem tem uma música deliciosa chamada "The River Man":

Gonna see the river man
Gonna tell him all I can
'bout the ban
On feeling free.

If he tells me all he knows
About the way his river flows
I don't suppose
It's meant for me.

Oh, how they come and go
Oh, how they come and go


Este texto é parte de um comentário meu a uma bela reflexão no Blog "O Homem que Sabia Demasiado" que questiona se a música precisa de significado. Vale a pena espreitar.

Um comentário:

Victor Gonçalves disse...

Caro camarada de Armas (forjadas nos melhores conceitos dos universo), deixo-lhe a mais célebre frase de Nietzsche sobre a Música: "– “Sem a música, a vida seria um erro” (Crepúsculo do Ídolos, “Máximas e Traços, §33 - não traduzido em português)