sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Objectividade e Obscenidade: Baudrillard e Zizek

"Quando as coisas se tornam mais reais, e dadas e realizadas de forma imediata, é nesse curto-circuito que se faz com que essas coisas se aproximem cada vez mais, e estamos assim no domínio da obscenidade. (...)

Num mundo destes não existe uma comunicação, mas antes uma contaminação de tipo viral, porque tudo se passa de um para outro e de forma imediata. A palavra promiscuidade afirma a mesma coisa: existe imediatamente, sem distanciamento e sem encanto. E até sem verdadeiro prazer. (...)

Existem alguns excessos na obscenidade: apresentar o corpo nu pode ser já brutalmente obsceno, apresentá-lo descarnado, magro ou esquelético é-o ainda mais. De facto podemos observar hoje que toda a problemática crítica dos media se desenrola em redor desse limiar de tolerância para o excesso de obscenidade. Claro, tudo deve ser dito, tudo vai ser dito...
Mas a verdade objectiva é obscena. E mesmo quando nos descrevem todos os pormenores das actividades sexuais de Bill Clinton, a obscenidade é inteiramente irrisória e até nos perguntamos se não existe aí uma dimensão irónica. (...) A obscenidade , ou seja, a visibilidade total das coisas, é a tal ponto insuportável que se torna necessário aplicar uma estratégia da ironia para sobreviver"

Jean Baudrillard em "Palavras de Ordem"



"A sexualidade é a única pulsão travada em si própria, prevertida: ao mesmo tempo, insuficiente e excessiva, com o excesso como forma de aparecimento da falta. Por um lado, a sexualidade é caracterizada pela capacidade universal de proporcionar o sentido metafórico ou subentendido de qualquer actividade e objecto: qualquer elemento, incluindo a reflexão mais abstracta, pode ser experimentado como se «aludisse a isso». (...)

Este excedente universal - esta capacidade por parte da sexualidade de invadir qualquer domínio da experiência humana, de tal maneira que tudo, do alimento à excreção, da agressão ao nosso semelhante (ou agressão do nosso semelhante) ao exercício do poder, pode assumir uma conotação sexual - não é sinal da sua preponderância. É antes sinal de uma certa deficiência em termos estruturais: a sexualidade impele para fora de si própria e invade os sectores adjacentes, precisamente pelo motivo de não poder encontrar satisfação em si própria, pois nunca alcança o seu objectivo"

Slavoj Zizek em "David Lynch, ou a Depressão Feminina"

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