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Num mundo destes não existe uma comunicação, mas antes uma contaminação de tipo viral, porque tudo se passa de um para outro e de forma imediata. A palavra promiscuidade afirma a mesma coisa: existe imediatamente, sem distanciamento e sem encanto. E até sem verdadeiro prazer. (...)
Existem alguns excessos na obscenidade: apresentar o corpo nu pode ser já brutalmente obsceno, apresentá-lo descarnado, magro ou esquelético é-o ainda mais. De facto podemos observar hoje que toda a problemática crítica dos media se desenrola em redor desse limiar de tolerância para o excesso de obscenidade. Claro, tudo deve ser dito, tudo vai ser dito...
Mas a verdade objectiva é obscena. E mesmo quando nos descrevem todos os pormenores das actividades sexuais de Bill Clinton, a obscenidade é inteiramente irrisória e até nos perguntamos se não existe aí uma dimensão irónica. (...) A obscenidade , ou seja, a visibilidade total das coisas, é a tal ponto insuportável que se torna necessário aplicar uma estratégia da ironia para sobreviver"
Jean Baudrillard em "Palavras de Ordem"
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Este excedente universal - esta capacidade por parte da sexualidade de invadir qualquer domínio da experiência humana, de tal maneira que tudo, do alimento à excreção, da agressão ao nosso semelhante (ou agressão do nosso semelhante) ao exercício do poder, pode assumir uma conotação sexual - não é sinal da sua preponderância. É antes sinal de uma certa deficiência em termos estruturais: a sexualidade impele para fora de si própria e invade os sectores adjacentes, precisamente pelo motivo de não poder encontrar satisfação em si própria, pois nunca alcança o seu objectivo"
Slavoj Zizek em "David Lynch, ou a Depressão Feminina"
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