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Hoje, 27 de Maio, fazem 19 anos da morte do poeta russo Arseny Tarkovsky, pai do famoso realizador Andrei Tarkovsky. Recordo aqui um de seus poemas:
Vida, Vida
1
Não acredito em pressentimentos, nem agoiros
Me assustam. Não evito a calúnia
Ou o veneno. Não há morte sobre a terra.
Todos são imortais. Tudo é imortal. Não há
Que ter medo da morte aos sete
Nem aos setenta. O real e a luz
Existem, mas não a morte ou a treva.
Viemos hoje à enseada,
E o cardume da imortalidade veio
Quando puxava as redes.
2
Vivei na casa - e a casa viverá.
Invocarei qualquer dos séculos
para lá construir a minha casa.
Por isso tenho vossos filhos a meu lado
E também vossas mulheres, sentados à mesa,
Mesa para o magnífico avô e para o neto.
Cumpre-se aqui e agora o futuro,
E se eu ao de leve vos dou a minha bênção
É porque só restam esses cinco raios de luz.
Omoplatas minhas como vigas mestras
Sustentam cada dia que engendra o passado,
Com a vara de agrimensura meço o tempo
E tanto atravesso como sobrevoo os montes Urais.
3
Escolho uma cidade à minha medida.
Guia-nos o sul com remoinhos de pó sobre a estepe;
Renques daninhos, pragas de gafanhotos,
As cintilações faiscantes das ferraduras polidas,
Tudo profetizava - visões
De monge - que eu iria perecer.
Peguei no destino, atei-o à sela;
E agora que estou no futuro, permaneço
Hirto nos estribos com uma criança
Só quero a imortalidade
Para que o sangue flua pelas eras.
De boa vontade daria a vida
Por um lugar seguro e quente,
Não me guiasse a agulha aérea viva
Pelo mundo como a uma linha
Arseny Tarkovsky
Um comentário:
Como admirador do filho realizador, esta data passou-me completamente ao lado. E sim, Arseny era um grande poeta.
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