sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Chestov: Apoteose do Desenraizamento

D.H. Lawrence diz que a cultura europeia penetrou nos russos como um vírus e que Chestov recebe-a como uma doença. Depois de ler All Things Are Possible de Chestov, aqui ficam algumas impressões (sim, fiquei realmente impressionado). All Things Are Possible no original chama-se Apotheosis of Groundlessness: An Attempt at Non-Dogmatic Thinking, que se pode traduzir por qualquer coisa como "A Apoteose do Desenraizamento: uma tentativa de pensamento não-dogmático". Chestov manda às urtigas todos os sistemas filosóficos e pensamento metodológico científico como limites à procura da verdade. A ideia é a de que, a partir do momento em os filósofos e epistemólogos tentam determinar à partida aquilo que é possível conhecer, estão na verdade a construir uma prisão para o pensamento. A ideia de sequência, fundamento da temporalidade, e tão cara à nossa razão, castra a imaginação e a possibilidade de aceder ao possível e ao impossível. Para Chestov, a razão é aquilo que nos faz prever o futuro, ou melhor, aquilo que engendra o futuro. É a razão, portanto, que nos traz decepções, na medida em que a vida decorre de forma a furtar-se sempre às nossas previsões. Assim, entre a vida e a razão, escolhendo a primeira não temos necessidade de prever e explicar e aceitamos o inalterável e inevitável como parte do jogo.
Chestov é perturbante. É semelhante à experiência de ser deitado fora de casa e viver ao relento. Zygmunt Bauman em "Modernidade e Ambivalência" referiu-se a Chestov desta forma:

"Chestov reagiu com um assalto frontal ao que era (como se dispôs a provar) um incurável paroquialismo da própria procura do absoluto em geral, e dos valores absolutamente superiores em particular. A procura pelos filósofos do sistema último, da ordem completa, da extirpação de todo o desconhecido e ingovernável deriva - declarou ele - da adoração de um terreno firme, de um lugar seguro e resulta na redução do infinito potencial humano." (Baumann)


O homem confortavelmente estabelecido diz: Como pode alguém viver sem a certeza do amanhã; como pode alguém dormir sem um tecto sobre a cabeça? Mas um acidente lança-o fora de sua casa e do seu lar. Tem forçosamente de dormir debaixo de uma sebe. Não consegue descansar, está cheio de medos. Pode haver feras selvagens, colegas vagabundos. Mas a longo prazo ele habitua-se. Confia a sua vida à contingência, vive a vida de vagabundo e dorme profundamente.
Lev Chestov

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