"Uma vez quando Wittgenstein estava a contar uma coisa que Freud tinha dito e o conselho que tinha dado a alguém, um de nós disse que o conselho não lhe parecia muito sábio. Claro que não, disse Wittgenstein. Mas a sabedoria é uma coisa que nunca esperaria de Freud. Esperteza, sem dúvida; mas não sabedoria"
Rush Rhees em Aulas e Conversas - Ludwig Wittgenstein
quarta-feira, 10 de dezembro de 2008
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3 comentários:
como já vi que és versado em filosofia e psicologia, gostava que me desses a tua opinião sobre estes 2 senhores que referiste no titulo do post, pois era minha ideia ler "o tratado lógico filosófico/investigações filosóficas" e "a civilização e os seus descontentamentos".
sou completamente leigo em filosofia e psicologia, mas depois de pesquisar um pouco achei que eram excelentes livros onde começar.
Não me considero suficientemente conhecedor do wittgenstein para falar e recomendar obras dele.
Folheei o "Da certeza", mas é uma obra bastante complexa e difícil de digerir que nunca tive paciência para ler na sua totalidade.
O que li foi este "Aulas e Conversas", onde alunos de Wittgenstein compilaram algumas aulas e conversas sobre temas como Estética, Freud, Psicologia e Fé Religiosa. É uma abordagem bastante mais leve e didáctica do que aquilo que é normal nas obras deste senhor mas que dá na mesma para ter um sabor da forma de pensar de Wittgenstein. Sobre Freud, desenvolve uma das críticas mais interessantes e fundadas que já vi acerca da psicanálise. São poucos os autores que conseguem fazê-lo.
A ideia que tenho da filosofia de Wittgenstein é a de um questionamento infinito que desmonta certezas e sistemas filosóficos complexos colocando tudo ao nível de jogos de linguagem.
Curiosamente, há uma entrada do abecedário do Deleuze só para o Wittgenstein:
"CP: Vamos ao W.
GD: Não tem nada em W.
CP: Tem sim: Wittgenstein. Sei que não é nada para você...
GD: Não quero falar disso. Para mim, é uma catástrofe filosófica. É uma regressão em massa de toda a filosofia. O caso Wittgenstein é muito triste. Eles criaram um sistema de terror, no qual, sob o pretexto de fazer alguma coisa nova, instauraram a pobreza em toda a sua grandeza. Não há palavras para descrever este perigo. E é um perigo que volta. É grave, pois os wittgensteinianos são maus, eles quebram tudo! Se eles vencerem, haverá um assassinato da filosofia. São assassinos da filosofia.
CP: É grave, então?
GD: Sim, é preciso ter muito cuidado!"
Sobre o Freud, já me sinto mais confortável a falar dele, mas contudo não sei o que recomendar pois Freud tem uma obra vastíssima.
O livro que referes dele, a civilização e seus descontentamentos, é uma obra tardia na carreira de Freud, onde ele desenvolve mais sobre as pulsões de vida e de morte, Eros e Thanatos, e onde sustenta uma visão pessimista da evolução da humanidade em que Thanatos tenderia a sobressair no final, correspondendo ao voltar final da vida humana ao estado de matéria inanimada a que corresponde a morte.
Se for para começar, eu recomendo uns livrinhos muito bons da Europa América, "Textos essenciais da Psicanálise", que contém obras e ensaios fundamentais de Freud para a compreensão da psicanálise.
Há também um livro em particular que gosto particularmente, que já referi aqui algures neste blog, que é o Totem e Tabu, onde Freud estuda a psique de povos selvagens e seus costumes, em comparação com o homem moderno neurótico civilizado, e encontra pontes e ligações inusitadas.
Enfim, caro Ivo, se for muita a indecisão, não há nada como usar o instinto, pegar e ler umas páginas à sorte e ver se a atmosfera é agradável. Boa sorte!
se por um lado, a ideia que tens do wittgenstein parece-me interessante o suficiente para lhe dar uma tentativa, por outro o que deleuze diz, não abona nada a favor. mas mesmo assim vou tentar começar por ai, porque a ideia de que "coloca tudo ao nível dos jogos de linguagem" interessa-me bastante.
o que disseste em relação ao livro do freud que referi, também me despertou ainda mais o interesse, mas vou tomar em conta as tuas outras recomendações.
Muito obrigado Joe!
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