Outro dia encontrei este site do movimento Global Orgasm. A ideia é combinar um dia do ano para toda a gente no mundo ter um orgasmo simultâneo. Com isso esperam libertar "energias positivas" no mundo para que haja menos guerra e menos armas de destruição em massa.
Dizem que podemos fazê-lo sozinhos através da masturbação ou acompanhados. É possível ver um vídeo onde o homem do casal mentor do movimento alerta para a necessidade de, no momento do orgasmo, visualizarmos na nossa mente imagens de paz no mundo. Como tal, o homem nota que é preciso praticar muito para que isto seja feito da maneira certa, deixando ainda o alerta para que não se façam mais bebés no dia do orgasmo por causa dos problemas de excesso de população mundial.
Há ainda o apelo a saberes "científicos" onde mostram um aparelho que nota alterações em cálculos randómicos electrónicos para o dia do orgasmo. O aparelho produz um gráfico que vai para cima e para baixo, o que hoje serve muito bem para dar ares de prova e credibilidade.
Este mundo está doido. Antes de mais nada convém salientar o utilitarismo e ritualismo que aqui é imputado à relação sexual. O mentor do projecto ao alertar para a necessidade de praticar o orgasmo para sair bem no momento certo, diz muito de como a relação sexual para este casal se tornou uma operação altamente programada e mecanizada.
A relação sexual, efectuada desta maneira, é um sintoma de que esta se processa a um nível muito mental, egóica e pouco espontânea. O que há é um encontro previamente estabelecido onde cada um já sabe previamente o que o outro irá fazer, anulando-se assim qualquer perigo de uma interacção espontânea, real, e imediata entre o casal. Toda a emocionalidade é aqui posta de lado.
Ou melhor, toda não. Quando a relação sexual atinge estes trâmites, há uma emoção particular que lhe assiste que é a de um grande sentimento de culpa. Para neuróticos obsessivos como é o caso, basta uma imagem mental menos bonita lhes vir à cabeça que imediatamente se sentem culpados e sujos. Ou essa imagem da cabeça corresponde aos seus ideais, ou se não corresponde, há uma sensação de sujidade que é preciso limpar, uma sensação de culpa que é preciso expiar.
Um neurótico obsessivo por exemplo, se se depara com uma imagem mental de homossexualidade, fica extremamente preocupado por pensar que pode ser honossexual, como se as imagens e pensamentos fossem já um acto.
Daí a pretensão de acharem que podem mudar o mundo com imagens mentais de paz no momento do orgasmo, como se a imagem ou o pensamento fossem um acto.
As imagens, pensamentos e restantes eventos mentais do fluxo da consciência humana não devem ser confundidas com o acto, a acção.
A mente não é acção, mas sim "pura potência", no sentido de Giorgio Agamben: Toda a potência de fazer é também potência de não fazer. Sendo o acto imutável e irreparável, no acto não cabe a categoria de possibilidade que corresponde ao pensamento.
O neurótico obsessivo portanto, ao tomar o pensamento como acto, nega ao pensamento toda o seu carácter de possibilidade, sendo que é o mundo do possível e do impossível que constitui a mente como pura potência. Assim, a omnipotência dos pensamentos de um neurótico obsessivo traduz-se numa impotência efectiva do pensamento, na medida em que lhe retira toda a imaginação, ou seja, a possibilidade de pensar o possível e o impossível.
Ainda sobre o casal do orgasmo globalizado, acrescentaria ainda que seu relacionamento sexual rege-se pelas normas do sadismo e do masoquismo. Aliás, a mulher quando fala no vídeo do site, realça precisamente essa posição superior da mulher na concepção que apresentam da humanidade. Trata-se aqui do esquema típico do amor cortês em que a mulher é quem manda (sádica) no homem que corteja a mulher de formas várias (masoquista que encena a sua própria servidão).
É a isto a que Zizek se refere quando diz que o sadismo e masoquismo que surgem no séc. XIX, tão em voga nos dias de hoje, é um sucedâneo do antigo amor cortês da época medieval, na medida em que neste se encontra subentendida a antiga relação feudal entre o senhor e o vassalo, onde os dois elementos da relação nunca estão numa relação de igualdade, daí a importância do contrato, que se mantém até aos dias de hoje, como fixação das regras que definem o relacionamento entre duas pessoas.
Neste casal "moderno", há também este contrato social, na medida em que, se virmos no site, há a possibilidade de dar donativos, comprar t-shirts e tapetes de rato do orgasmo global, etc. A união que vemos neste casal assume um caractér económico inegável, o que mais uma vez se insere nessa excessiva regulamentação e ritualização da relação.
Este elemento económico define e complementa toda a natureza da relação sadomasoquista obsessiva entre os dois. Este casal nunca produzirá bebés, mas sim dinheiro e mais dinheiro. Aliás, a possibilidade de um bebé é assustadora para este casal (poria o contrato em perigo), basta ver por observações como esta feitas no site:
"Every cute baby is another consumer. Let’s make children even more valued by making fewer of them, before the pressures of overpopulation drive our children to kill each other. "
segunda-feira, 28 de julho de 2008
sábado, 26 de julho de 2008
sábado, 19 de julho de 2008
DJs Estaline + KGB: A Ditadura do Rock'n'Roll
Há já algum tempo (um ano?) que o meu alter-ego DJ Estaline se encontra fora de actividade.
Mas é já este Sábado o regresso do socialismo ao Bar Carpe Diem, em Santo Tirso, onde irei fazer minha propaganda musical com jazz, blues, rock dos anos 50', 60, 70'. 80', 90', 2000... rock moderno, rock antigo, música mexicana, Zeca Afonso, Tchaikovsky e Pauliteiros de Miranda.
Mas desta vez, Estaline não estará sozinho. Um agente secreto do KGB cuja identidade não vou revelar, também estará presente para dar o seu contributo musical para esta reunião da classe operária do rock. Apareçam.
terça-feira, 15 de julho de 2008
O Estado do Mundo: Civilização do Trauma, Museus-Cemitério e a Igreja do Índio
"E contudo se não houver futuro, se não tivermos futuro, seremos como dizia o outro, «cadáveres adiados que procriam». Porque aquele medo se torna uma patologia do desejo, uma tão brutal antecipação simbólica da morte que inibiria todo o imaginário, amputaria a capacidade de simbolização e tornaria toda a esperança uma ilusão ou um produto do sono da razão. Ora nós precisamos do futuro como do ar que respiramos."
Manuel Gusmão na revista ACTO #8, O Futuro
No post anterior destaquei dois artigos do livro "o estado do mundo", o de Sloterdijk e o do João Barrento. Falta dar o devido destaque a outros dois ensaios. Um é o do Santiago Kovadloff "A Construção do Presente, Feições Filosóficas do Conceito de Trauma". Com uma linguagem muita clara, límpida e ao mesmo tempo, profunda, Kovadloff tem passagens como estas:
"Bem poderia acontecer, e de facto acontece, que o homem aspire a congelar numa interpretação definitiva, de intenção exaustiva e inamovível, o fluxo do tempo, a dinâmica da actualidade. Quando isto acontece, o homem não provém já do porvir, e sim do passado. Sempre, é claro, que o passado for entendido nos termos que aqui proponho: o fixo, o calcário, (...) e nós todos sabemos que o outro nome eminente para designar o imodificável é o de dogma. Dogmatizar o presente é o mesmo que habitá-lo com vocação de passado. A razão dogmática pode ser entendida com expressão da lógica traumática. Nela o tempo aparece cristalizado e, nessa medida, o discurso subjectivo não opera"
Museus-Cemitério:
A construção de um museu corresponde precisamente a esta lógica de habitar o presente com vocação de passado. Há uma ligação entre o coleccionar e o guardar com uma pulsão de morte, estando conservação e a posse no ocupar desse buraco negro do desejo que nunca poderá ser satisfeito.
Há um outro artigo neste "O Estado do Mundo" muito interessante de Moira Simpson: "Um mundo de Museus: Novos Conceitos, Novos Modelos". Simpson fala da evolução do conceito de museu desde os tempos que eram obra de coleccionadores privados, até ao tempo em que se tornaram instituições sob a ègide da ciência e da arte, retirando no processo, bens culturais dos índios que usavam no dia-a-dia, na vivência das suas culturas. Alguns índios conseguiram recuperar bens que haviam perdido para os museus, dando-lhes um uso vivo que segundo Moira Simpson, alerta para a necessidade de um novo modelo de museu que faça reviver culturas ao invés de as enterrar definitivamente.
Isto fez-me lembar o que Gianni Vatimo diz no livro "Aventuras da Diferença" que li recentemente, sobre as relações entre a ciência e arte na perspectiva de Nietzsche e Heidegger, quando qualifica a ciência desta maneira:
"O "contar" e calcular da ciência não é um numerador, para ela, contar significa "contar com", isto é, poder estar segura de alguma coisa, de um número cada vez maior de coisas. A ciência responde ao apelo do princípio com um (...) perseguir e capturar. (...) Ela é animada pelo "espírito de vingança de que Zaratustra quer libertar o homem."
Acompanhando ainda Moira Simpson, esta fala-nos do testemunho de um índio aquando da inauguração de um museu: "Não devemos chamar-lhe museu, porque não somos um povo morto; chamemos-lhe a Casa do Tesouro Skeena".
Simpson diz que "Para alguns povos, essa "morte" pode ser metafórica e referir-se aos objectos que foram retirados da sua cultura de origem e colocados nos expositores ou nos amramzéns de um museu, onde se vêem desprovidos da vida social activa que lhes confere significado."
O povo indío americano era uma cultura nómada, eles não tinham casas fixas. Mudavam consoante os ditames dos ciclos da natureza, com os quais mantinham relação íntima. Se para os índios a ideia de uma casa fixa é estranha, a de um museu tanto mais estranho é.
Termino ainda com as palavras de Charles Eastman autor nativo-americano, que no livro "A Alma do Índio" caracteriza assim a estranheza dos indíos, povo nómada, perante a noção de igreja ou casa de culto
"Não havia quaisquer templos ou santuários entre nós, excepto os da natureza. Sendo um homem natural, o ìndio era intensamente poético. Ele julgaria sacrílego construir uma casa para Aquele que pode ser encontrado cara a cara nas misteriosas, sombrias naves da floresta primeva, ou no seio ensolarado das pradarias virgens, sobre vertiginosas agulhas e pináculos de rocha nua, e situado além da na abóbada adornada do céu nocturno. Aquele que se a Si mesmo de leves mantos de nuvens, aí na orla do mundo visível onde o nosso Bisavô Sol atiça a fogueira do seu acampamento nocturno, aquele que cavalga sobre o rigoroso vento do norte, ou exala para diante o Seu espírito sobre os ares aronáticos do Sul, cuja canoa-de-guerra se lança sobre majestosos rios e mares interiores - Ele não precisa de uma catedral mais pequena!"
Manuel Gusmão na revista ACTO #8, O Futuro
No post anterior destaquei dois artigos do livro "o estado do mundo", o de Sloterdijk e o do João Barrento. Falta dar o devido destaque a outros dois ensaios. Um é o do Santiago Kovadloff "A Construção do Presente, Feições Filosóficas do Conceito de Trauma". Com uma linguagem muita clara, límpida e ao mesmo tempo, profunda, Kovadloff tem passagens como estas:
"Bem poderia acontecer, e de facto acontece, que o homem aspire a congelar numa interpretação definitiva, de intenção exaustiva e inamovível, o fluxo do tempo, a dinâmica da actualidade. Quando isto acontece, o homem não provém já do porvir, e sim do passado. Sempre, é claro, que o passado for entendido nos termos que aqui proponho: o fixo, o calcário, (...) e nós todos sabemos que o outro nome eminente para designar o imodificável é o de dogma. Dogmatizar o presente é o mesmo que habitá-lo com vocação de passado. A razão dogmática pode ser entendida com expressão da lógica traumática. Nela o tempo aparece cristalizado e, nessa medida, o discurso subjectivo não opera"
Museus-Cemitério:
A construção de um museu corresponde precisamente a esta lógica de habitar o presente com vocação de passado. Há uma ligação entre o coleccionar e o guardar com uma pulsão de morte, estando conservação e a posse no ocupar desse buraco negro do desejo que nunca poderá ser satisfeito.
Há um outro artigo neste "O Estado do Mundo" muito interessante de Moira Simpson: "Um mundo de Museus: Novos Conceitos, Novos Modelos". Simpson fala da evolução do conceito de museu desde os tempos que eram obra de coleccionadores privados, até ao tempo em que se tornaram instituições sob a ègide da ciência e da arte, retirando no processo, bens culturais dos índios que usavam no dia-a-dia, na vivência das suas culturas. Alguns índios conseguiram recuperar bens que haviam perdido para os museus, dando-lhes um uso vivo que segundo Moira Simpson, alerta para a necessidade de um novo modelo de museu que faça reviver culturas ao invés de as enterrar definitivamente.
Isto fez-me lembar o que Gianni Vatimo diz no livro "Aventuras da Diferença" que li recentemente, sobre as relações entre a ciência e arte na perspectiva de Nietzsche e Heidegger, quando qualifica a ciência desta maneira:
"O "contar" e calcular da ciência não é um numerador, para ela, contar significa "contar com", isto é, poder estar segura de alguma coisa, de um número cada vez maior de coisas. A ciência responde ao apelo do princípio com um (...) perseguir e capturar. (...) Ela é animada pelo "espírito de vingança de que Zaratustra quer libertar o homem."
Acompanhando ainda Moira Simpson, esta fala-nos do testemunho de um índio aquando da inauguração de um museu: "Não devemos chamar-lhe museu, porque não somos um povo morto; chamemos-lhe a Casa do Tesouro Skeena".
Simpson diz que "Para alguns povos, essa "morte" pode ser metafórica e referir-se aos objectos que foram retirados da sua cultura de origem e colocados nos expositores ou nos amramzéns de um museu, onde se vêem desprovidos da vida social activa que lhes confere significado."
O povo indío americano era uma cultura nómada, eles não tinham casas fixas. Mudavam consoante os ditames dos ciclos da natureza, com os quais mantinham relação íntima. Se para os índios a ideia de uma casa fixa é estranha, a de um museu tanto mais estranho é.
Termino ainda com as palavras de Charles Eastman autor nativo-americano, que no livro "A Alma do Índio" caracteriza assim a estranheza dos indíos, povo nómada, perante a noção de igreja ou casa de culto
"Não havia quaisquer templos ou santuários entre nós, excepto os da natureza. Sendo um homem natural, o ìndio era intensamente poético. Ele julgaria sacrílego construir uma casa para Aquele que pode ser encontrado cara a cara nas misteriosas, sombrias naves da floresta primeva, ou no seio ensolarado das pradarias virgens, sobre vertiginosas agulhas e pináculos de rocha nua, e situado além da na abóbada adornada do céu nocturno. Aquele que se a Si mesmo de leves mantos de nuvens, aí na orla do mundo visível onde o nosso Bisavô Sol atiça a fogueira do seu acampamento nocturno, aquele que cavalga sobre o rigoroso vento do norte, ou exala para diante o Seu espírito sobre os ares aronáticos do Sul, cuja canoa-de-guerra se lança sobre majestosos rios e mares interiores - Ele não precisa de uma catedral mais pequena!"
Rosto e Paisagem II: Sloterdijk, eu a fazer de Stezaker e "O Estado do Mundo"
Andei a ler este livro que me emprestaram, a segunda edição de "O Estado do Mundo" publicada pela Gulbenkian. Tem 10 ensaístas, um poema e um portfolio de uma artista. Dos ensaios que se me revelaram com mais "Potência", destaco João Barrento com o texto "O Jardim Devastado e o Perfil da Esperança", um texto muito bem escrito, rico em referências bem escolhidas de autores como Agamben, Kafka, Wittgenstein e termina com Manuel Gusmão e Llansol.
Há também Peter Sloterdijk, autor que anda na moda de quem nunca tinho lido nada, apenas folheado, tendo já sentido o impacto dos títulos dos livros e capítulos que escolhe. Este texto chama-se "Os novos frutos da Ira: Pós-Comunismo, Neoliberalismo, Islamismo."
Primeiro diz que o comunismo está velho arcaico, reumático, coitadinho. Diz que a Igreja teve se adaptar ao capitalismo ficando "bonzinha", e como que relegou seu autoritarismo para o sector político. A herança católica do juízo final, segundo Sloterdijk, terá sido aproveitada no campo político pelo comunismo:
"Quando no ano de 1848, foi possível afirmar, em tom de certa auto complacência, que um espectro andava à solta pela Europa, intimidando e assustando todos os governos, de Paris a Moscovo, esta mudança era um testemunho da situação depois da "morte de Deus" com a qual também a função do Juízo Final - juntamente com vários outros departamentos da jurisdição divina - teve de ser transferida para o bem e para o mal, para instâncias terrenas."
"Aquilo que desde início tornou verdadeiramente espectral o comunismo ascendente e lhe conferiu a a força de atrair a si os reflexos paranóicos dos seus adversários, foi a sua capacidade, cedo reconhecida, de ameaçar de destruição o status quo vigente. (...) O negócio da vingança do Juízo Final, ou dito de forma mais comedida, do equilíbrio unversal do sofrimento, acabaria por escapar de novo das instâncias terrenas"
O que Sloterdijk diz é que o comunismo só funciona enquanto espectro de ameaça do Juízo Final. Mas depois diz também que o Islamismo está em forte expansão e é candidato a ao monopólio do negócio da vingança do juízo final, ao receber de herança do comunismo essa imagem do grande inimigo do eixo do bem mundial, de que a política ocidental tanto precisa.
No entanto o raciocínio inverso é mais interessante. Quais são os motivos que levam os jovens a aderir a organizaçõe terroristas islâmicas? Sloterdijk dá três motivos: os dois primeiros são uma visão simples radical do mundo dividido em bem e mal e uma visão do mundo baseada numa grande luta de grandeza teatral.
Isto são balelas como se sabe, e Sloterdijk também o sabe. O terceiro motivo e mais importante que ele dá é o de "um excesso ddesesperado de vitalidade de um gigantesco grupo de jovens desempregados, sem família própria e sem perspectivas sociais, entre os quinze o os vinte e nove anos (e um pouco mais).
O que Sloterdijk acaba de certo modo por deixar implícito é uma visão marxista da luta de classes que se ajusta perfeitamente àquilo que é o Islão. Por um lado, o Islão é a imagem do inimigo externo que a política e economia ocidental paranóicas tanto precisam. No capitalismo neo-liberal há sempre necessidade de exploradores e explorados. Por outro lado, o Islão é para os islâmicos a certeza de uma justiça divina perante o mal estar social e económico que vivem.
O que existe são dois Islãos devido a uma diferença de classes que é mais importante do que são as diferenças religiosos em termos políticos. E isto é a prova de que felizmente, é verdade o que Sloterdijk deixa entender mas não assume, de que o comunismo ainda existe como espectro efectivamente destruidor do status Quo tradicional: já não se trata de cristãos contra católicos, porque a diferença de classes está implantada nas religiões, havendo ricos capitalistas islâmicos e católicos, e pobres e explorados islâmicos e católicos.
Há também Peter Sloterdijk, autor que anda na moda de quem nunca tinho lido nada, apenas folheado, tendo já sentido o impacto dos títulos dos livros e capítulos que escolhe. Este texto chama-se "Os novos frutos da Ira: Pós-Comunismo, Neoliberalismo, Islamismo."
Primeiro diz que o comunismo está velho arcaico, reumático, coitadinho. Diz que a Igreja teve se adaptar ao capitalismo ficando "bonzinha", e como que relegou seu autoritarismo para o sector político. A herança católica do juízo final, segundo Sloterdijk, terá sido aproveitada no campo político pelo comunismo:
"Quando no ano de 1848, foi possível afirmar, em tom de certa auto complacência, que um espectro andava à solta pela Europa, intimidando e assustando todos os governos, de Paris a Moscovo, esta mudança era um testemunho da situação depois da "morte de Deus" com a qual também a função do Juízo Final - juntamente com vários outros departamentos da jurisdição divina - teve de ser transferida para o bem e para o mal, para instâncias terrenas."
"Aquilo que desde início tornou verdadeiramente espectral o comunismo ascendente e lhe conferiu a a força de atrair a si os reflexos paranóicos dos seus adversários, foi a sua capacidade, cedo reconhecida, de ameaçar de destruição o status quo vigente. (...) O negócio da vingança do Juízo Final, ou dito de forma mais comedida, do equilíbrio unversal do sofrimento, acabaria por escapar de novo das instâncias terrenas"
O que Sloterdijk diz é que o comunismo só funciona enquanto espectro de ameaça do Juízo Final. Mas depois diz também que o Islamismo está em forte expansão e é candidato a ao monopólio do negócio da vingança do juízo final, ao receber de herança do comunismo essa imagem do grande inimigo do eixo do bem mundial, de que a política ocidental tanto precisa.
No entanto o raciocínio inverso é mais interessante. Quais são os motivos que levam os jovens a aderir a organizaçõe terroristas islâmicas? Sloterdijk dá três motivos: os dois primeiros são uma visão simples radical do mundo dividido em bem e mal e uma visão do mundo baseada numa grande luta de grandeza teatral.
Isto são balelas como se sabe, e Sloterdijk também o sabe. O terceiro motivo e mais importante que ele dá é o de "um excesso ddesesperado de vitalidade de um gigantesco grupo de jovens desempregados, sem família própria e sem perspectivas sociais, entre os quinze o os vinte e nove anos (e um pouco mais).
O que Sloterdijk acaba de certo modo por deixar implícito é uma visão marxista da luta de classes que se ajusta perfeitamente àquilo que é o Islão. Por um lado, o Islão é a imagem do inimigo externo que a política e economia ocidental paranóicas tanto precisam. No capitalismo neo-liberal há sempre necessidade de exploradores e explorados. Por outro lado, o Islão é para os islâmicos a certeza de uma justiça divina perante o mal estar social e económico que vivem.
O que existe são dois Islãos devido a uma diferença de classes que é mais importante do que são as diferenças religiosos em termos políticos. E isto é a prova de que felizmente, é verdade o que Sloterdijk deixa entender mas não assume, de que o comunismo ainda existe como espectro efectivamente destruidor do status Quo tradicional: já não se trata de cristãos contra católicos, porque a diferença de classes está implantada nas religiões, havendo ricos capitalistas islâmicos e católicos, e pobres e explorados islâmicos e católicos.
domingo, 6 de julho de 2008
Teste Político
Encontrei um teste político bastante bom, o Political Compass, que combina a diferença esquerda/direita com a variante autoritarismo/libertanismo. Fiz o teste e não me surpreendeu muito. Os testes bons e fiáveis são os que dizem o óbvio.
Também é possível ver os resultados de alguns líderes mundiais. Gosto de me ver longe daquela corja do canto superior direito. Quem quiser que faça também o teste aqui.
Também é possível ver os resultados de alguns líderes mundiais. Gosto de me ver longe daquela corja do canto superior direito. Quem quiser que faça também o teste aqui.
sábado, 5 de julho de 2008
José Mário Branco - FMI
A filosofia portuguesa não existe. Os nossos filósofos são poetas, as nossas canções são a nossa metafísica. Um desses filósofos dá pelo nome de José Mário Branco. Soube entretanto, e não ne espanta, que aos 65 anos o cantor voltou à Universidade e teve uma média de 19,1 valores no 1º ano, no ano lectivo de 2005/06 no curso de Linguística da Universidade de Lisboa. No ano passado, o cantor foi o melhor aluno desta universidade.
Na sua música mais emblemática, FMI, de 25 minutos, editada em 1981, José Mário Branco encarna um Artaud que encena um complexo de Édipo português centrado na mãe (sim, os portugueses são matriarcais), fazendo desta música uma The End da Música Portuguesa. Ao mesmo tempo faz um retrato teatral, antropológico, sociológico, filosófico, biológico, escatológico, lógico e ilógico de Portugal e dos Portugueses, fazendo uso de palavrões com um rigor poético notável.
Lembro aqui uns trechos da letra da FMI que mantém totalmente sua relevância nos dias de hoje. Saquem a música e ouçam-na neste link. Recomendo também o download destes dois albums aqui: Ser Solidário e Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades.
"Estás desiludido com as promessas de Abril, né? As conquistas de Abril! Eram só paleio a partir do momento que tas começaram a tirar e tu ficaste quietinho, né filho? E tu fizeste como o avestruz, enfiaste a cabeça na areia, não é nada comigo, não é nada comigo, né? E os da frente que se lixem... E é por isso que a tua solução é não ver, é não ouvir, é não querer ver, é não querer entender nada, precisas de paz de consciência, não andas aqui a brincar, né filho? Precisas de ter razão, precisas de atirar as culpas para cima de alguém e atiras as culpas para os da frente, para os do 25 de Abril, para os do 28 de Setembro, para os do 11 de Março, para os do 25 de Novembro, para os do... que dia é hoje, ah? (...)
Não há português nenhum que não se sinta culpado de qualquer coisa, não é filho? Todos temos culpas no cartório, foi isso que te ensinaram, não é verdade? Esta merda não anda porque a malta, pá, a malta não quer que esta merda ande, tenho dito. A culpa é de todos, a culpa não é de ninguém, não é isto verdade? Quer isto dizer, há culpa de todos em geral e não há culpa de ninguém em particular! Somos todos muita bons no fundo, né? Somos todos uma nação de pecadores e de vendidos, né? Somos todos, ou anti-comunistas ou anti-fascistas, estas coisas até já nem querem dizer nada, ismos para aqui, ismos para acolá, as palavras é só bolinhas de sabão, parole parole parole e o Zé é que se lixa, cá o pintas azeite mexilhão, eu quero lá saber deste paleio vou mas é ao futebol, pronto, viva o Porto, viva o Benfica, Lourosa, Lourosa, Marraças, Marraças, fora o arbitro, gatuno, bora tudo p'ro caralho, razão tinha o Tonico de Bastos para se entreter, né filho?
Entretém-te filho, com as tuas viúvas e as tuas órfãs que o teu delegado sindical vai tratando da saúde aos administradores, entretém-te, que o ministro do trabalho trata da saúde aos delegados sindicais, entretém-te filho, que a oposição parlamentar trata da saúde ao ministro do trabalho, entretém-te, que o Eanes trata da saúde à oposição parlamentar, entretém-te, que o FMI trata da saúde ao Eanes, entretém-te filho e vai para a cama descansado que há milhares de gajos inteligentes a pensar em tudo neste mesmo instante, enquanto tu adormeces a não pensar em nada, milhares e milhares de tipos inteligentes e poderosos com computadores, redes de policia secreta, telefones, carros de assalto, exércitos inteiros, congressos universitários, eu sei lá! (...)
A ver quem vai ser capaz de convencer de que a culpa é tua e só tua se o teu salário perde valor todos os dias, ou de te convencer de que a culpa é só tua se o teu poder de compra é como o rio de S. Pedro de Moel que se some nas areias em plena praia, ali a 10 metros do mar em maré cheia e nunca consegue desaguar de maneira que se possa dizer: porra, finalmente o rio desaguou! Hão te convencer de que a culpa é tua e tu sem culpa nenhuma, tens tu a ver, tens tu a ver com isso, não é filho? Cada um que se vá safando como puder, é mesmo assim, não é? Tu fazes como os outros, fazes o que tens a fazer, votas à esquerda moderada nas sindicais, votas no centro moderado nas deputais, e votas na direita moderada nas presidenciais! Que mais querem eles, que lhe ofereças a Europa no natal?!
(...)
Entretém-te meu anjinho, entretém-te, que eles são inteligentes, eles ajudam, eles emprestam, eles decidem por ti, decidem tudo por ti, se hás-de construir barcos para a Polónia ou cabeças de alfinete para a Suécia, se hás-de plantar tomate para o Canada ou eucaliptos para o Japão, descansa que eles tratam disso, se hás-de comer bacalhau só nos anos bissextos ou hás-de beber vinho sintético de Alguidares-de-Baixo!
(...)
Sempre a merda do futuro, a merda do futuro, e eu ah? Que é que eu ando aqui a fazer? Digam lá, e eu? José Mário Branco, 37 anos, isto é que é uma porra, anda aqui um gajo cheio de boas intenções, a pregar aos peixinhos, a arriscar o pêlo, e depois? É só porrada e mal viver é? O menino é mal criado, o menino é 'pequeno burguês', o menino pertence a uma classe sem futuro histórico... Eu sou parvo ou quê? Quero ser feliz porra, quero ser feliz agora, que se foda o futuro, que se foda o progresso, mais vale só do que mal acompanhado, vá mandem-me lavar as mãos antes de ir para a mesa, filhos da puta de progressistas do caralho da revolução que vos foda a todos! Deixem-me em paz porra, deixem-me em paz e sossego, não me emprenhem mais pelos ouvidos caralho, não há paciência, não há paciência, deixem-me em paz caralho, saiam daqui, deixem-me sozinho, só um minuto, vão vender jornais e governos e greves e sindicatos e policias e generais para o raio que vos parta!
(...)
E se inventássemos o mar de volta, e se inventássemos partir, para regressar. Partir e aí nessa viajem ressuscitar da morte às arrecuas que me deste. Partida para ganhar, partida de acordar, abrir os olhos, numa ânsia colectiva de tudo fecundar, terra, mar, mãe... Lembrar como o mar nos ensinava a sonhar alto, lembrar nota a nota o canto das sereias, lembrar o depois do adeus, e o frágil e ingénuo cravo da Rua do Arsenal, lembrar cada lágrima, cada abraço, cada morte, cada traição, partir aqui com a ciência toda do passado, partir, aqui, para ficar... (...)
Neste cais está arrimado o barco sonho em que voltei. Neste cais eu encontrei a margem do outro lado, Grandola Vila Morena. Diz lá, valeu a pena a travessia? Valeu pois. Pela vaga de fundo se sumiu o futuro histórico da minha classe, no fundo deste mar, encontrareis tesouros recuperados, de mim que estou a chegar do lado de lá para ir convosco. Tesouros infindáveis que vos trago de longe e que são vossos, o meu canto e a palavra, o meu sonho é a luz que vem do fim do mundo, dos vossos antepassados que ainda não nasceram. A minha arte é estar aqui convosco e ser-vos alimento e companhia na viagem para estar aqui de vez.
Sou português, pequeno burguês de origem, filho de professores primários, artista de variedades, compositor popular, aprendiz de feiticeiro, faltam-me dentes. Sou o Zé Mário Branco, 37 anos, do Porto, muito mais vivo que morto, contai com isto de mim para cantar e para o resto."
Na sua música mais emblemática, FMI, de 25 minutos, editada em 1981, José Mário Branco encarna um Artaud que encena um complexo de Édipo português centrado na mãe (sim, os portugueses são matriarcais), fazendo desta música uma The End da Música Portuguesa. Ao mesmo tempo faz um retrato teatral, antropológico, sociológico, filosófico, biológico, escatológico, lógico e ilógico de Portugal e dos Portugueses, fazendo uso de palavrões com um rigor poético notável.
Lembro aqui uns trechos da letra da FMI que mantém totalmente sua relevância nos dias de hoje. Saquem a música e ouçam-na neste link. Recomendo também o download destes dois albums aqui: Ser Solidário e Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades.
"Estás desiludido com as promessas de Abril, né? As conquistas de Abril! Eram só paleio a partir do momento que tas começaram a tirar e tu ficaste quietinho, né filho? E tu fizeste como o avestruz, enfiaste a cabeça na areia, não é nada comigo, não é nada comigo, né? E os da frente que se lixem... E é por isso que a tua solução é não ver, é não ouvir, é não querer ver, é não querer entender nada, precisas de paz de consciência, não andas aqui a brincar, né filho? Precisas de ter razão, precisas de atirar as culpas para cima de alguém e atiras as culpas para os da frente, para os do 25 de Abril, para os do 28 de Setembro, para os do 11 de Março, para os do 25 de Novembro, para os do... que dia é hoje, ah? (...)
Não há português nenhum que não se sinta culpado de qualquer coisa, não é filho? Todos temos culpas no cartório, foi isso que te ensinaram, não é verdade? Esta merda não anda porque a malta, pá, a malta não quer que esta merda ande, tenho dito. A culpa é de todos, a culpa não é de ninguém, não é isto verdade? Quer isto dizer, há culpa de todos em geral e não há culpa de ninguém em particular! Somos todos muita bons no fundo, né? Somos todos uma nação de pecadores e de vendidos, né? Somos todos, ou anti-comunistas ou anti-fascistas, estas coisas até já nem querem dizer nada, ismos para aqui, ismos para acolá, as palavras é só bolinhas de sabão, parole parole parole e o Zé é que se lixa, cá o pintas azeite mexilhão, eu quero lá saber deste paleio vou mas é ao futebol, pronto, viva o Porto, viva o Benfica, Lourosa, Lourosa, Marraças, Marraças, fora o arbitro, gatuno, bora tudo p'ro caralho, razão tinha o Tonico de Bastos para se entreter, né filho?
Entretém-te filho, com as tuas viúvas e as tuas órfãs que o teu delegado sindical vai tratando da saúde aos administradores, entretém-te, que o ministro do trabalho trata da saúde aos delegados sindicais, entretém-te filho, que a oposição parlamentar trata da saúde ao ministro do trabalho, entretém-te, que o Eanes trata da saúde à oposição parlamentar, entretém-te, que o FMI trata da saúde ao Eanes, entretém-te filho e vai para a cama descansado que há milhares de gajos inteligentes a pensar em tudo neste mesmo instante, enquanto tu adormeces a não pensar em nada, milhares e milhares de tipos inteligentes e poderosos com computadores, redes de policia secreta, telefones, carros de assalto, exércitos inteiros, congressos universitários, eu sei lá! (...)
A ver quem vai ser capaz de convencer de que a culpa é tua e só tua se o teu salário perde valor todos os dias, ou de te convencer de que a culpa é só tua se o teu poder de compra é como o rio de S. Pedro de Moel que se some nas areias em plena praia, ali a 10 metros do mar em maré cheia e nunca consegue desaguar de maneira que se possa dizer: porra, finalmente o rio desaguou! Hão te convencer de que a culpa é tua e tu sem culpa nenhuma, tens tu a ver, tens tu a ver com isso, não é filho? Cada um que se vá safando como puder, é mesmo assim, não é? Tu fazes como os outros, fazes o que tens a fazer, votas à esquerda moderada nas sindicais, votas no centro moderado nas deputais, e votas na direita moderada nas presidenciais! Que mais querem eles, que lhe ofereças a Europa no natal?!
(...)
Entretém-te meu anjinho, entretém-te, que eles são inteligentes, eles ajudam, eles emprestam, eles decidem por ti, decidem tudo por ti, se hás-de construir barcos para a Polónia ou cabeças de alfinete para a Suécia, se hás-de plantar tomate para o Canada ou eucaliptos para o Japão, descansa que eles tratam disso, se hás-de comer bacalhau só nos anos bissextos ou hás-de beber vinho sintético de Alguidares-de-Baixo!
(...)
Sempre a merda do futuro, a merda do futuro, e eu ah? Que é que eu ando aqui a fazer? Digam lá, e eu? José Mário Branco, 37 anos, isto é que é uma porra, anda aqui um gajo cheio de boas intenções, a pregar aos peixinhos, a arriscar o pêlo, e depois? É só porrada e mal viver é? O menino é mal criado, o menino é 'pequeno burguês', o menino pertence a uma classe sem futuro histórico... Eu sou parvo ou quê? Quero ser feliz porra, quero ser feliz agora, que se foda o futuro, que se foda o progresso, mais vale só do que mal acompanhado, vá mandem-me lavar as mãos antes de ir para a mesa, filhos da puta de progressistas do caralho da revolução que vos foda a todos! Deixem-me em paz porra, deixem-me em paz e sossego, não me emprenhem mais pelos ouvidos caralho, não há paciência, não há paciência, deixem-me em paz caralho, saiam daqui, deixem-me sozinho, só um minuto, vão vender jornais e governos e greves e sindicatos e policias e generais para o raio que vos parta!
(...)
E se inventássemos o mar de volta, e se inventássemos partir, para regressar. Partir e aí nessa viajem ressuscitar da morte às arrecuas que me deste. Partida para ganhar, partida de acordar, abrir os olhos, numa ânsia colectiva de tudo fecundar, terra, mar, mãe... Lembrar como o mar nos ensinava a sonhar alto, lembrar nota a nota o canto das sereias, lembrar o depois do adeus, e o frágil e ingénuo cravo da Rua do Arsenal, lembrar cada lágrima, cada abraço, cada morte, cada traição, partir aqui com a ciência toda do passado, partir, aqui, para ficar... (...)
Neste cais está arrimado o barco sonho em que voltei. Neste cais eu encontrei a margem do outro lado, Grandola Vila Morena. Diz lá, valeu a pena a travessia? Valeu pois. Pela vaga de fundo se sumiu o futuro histórico da minha classe, no fundo deste mar, encontrareis tesouros recuperados, de mim que estou a chegar do lado de lá para ir convosco. Tesouros infindáveis que vos trago de longe e que são vossos, o meu canto e a palavra, o meu sonho é a luz que vem do fim do mundo, dos vossos antepassados que ainda não nasceram. A minha arte é estar aqui convosco e ser-vos alimento e companhia na viagem para estar aqui de vez.
Sou português, pequeno burguês de origem, filho de professores primários, artista de variedades, compositor popular, aprendiz de feiticeiro, faltam-me dentes. Sou o Zé Mário Branco, 37 anos, do Porto, muito mais vivo que morto, contai com isto de mim para cantar e para o resto."
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