terça-feira, 27 de maio de 2008
Arseny Tarkovsky
Hoje, 27 de Maio, fazem 19 anos da morte do poeta russo Arseny Tarkovsky, pai do famoso realizador Andrei Tarkovsky. Recordo aqui um de seus poemas:
Vida, Vida
1
Não acredito em pressentimentos, nem agoiros
Me assustam. Não evito a calúnia
Ou o veneno. Não há morte sobre a terra.
Todos são imortais. Tudo é imortal. Não há
Que ter medo da morte aos sete
Nem aos setenta. O real e a luz
Existem, mas não a morte ou a treva.
Viemos hoje à enseada,
E o cardume da imortalidade veio
Quando puxava as redes.
2
Vivei na casa - e a casa viverá.
Invocarei qualquer dos séculos
para lá construir a minha casa.
Por isso tenho vossos filhos a meu lado
E também vossas mulheres, sentados à mesa,
Mesa para o magnífico avô e para o neto.
Cumpre-se aqui e agora o futuro,
E se eu ao de leve vos dou a minha bênção
É porque só restam esses cinco raios de luz.
Omoplatas minhas como vigas mestras
Sustentam cada dia que engendra o passado,
Com a vara de agrimensura meço o tempo
E tanto atravesso como sobrevoo os montes Urais.
3
Escolho uma cidade à minha medida.
Guia-nos o sul com remoinhos de pó sobre a estepe;
Renques daninhos, pragas de gafanhotos,
As cintilações faiscantes das ferraduras polidas,
Tudo profetizava - visões
De monge - que eu iria perecer.
Peguei no destino, atei-o à sela;
E agora que estou no futuro, permaneço
Hirto nos estribos com uma criança
Só quero a imortalidade
Para que o sangue flua pelas eras.
De boa vontade daria a vida
Por um lugar seguro e quente,
Não me guiasse a agulha aérea viva
Pelo mundo como a uma linha
Arseny Tarkovsky
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Um comentário:
Como admirador do filho realizador, esta data passou-me completamente ao lado. E sim, Arseny era um grande poeta.
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