quarta-feira, 25 de agosto de 2010

todas as mãos

José Eduardo Magalhães
Porto
24/8/2010

Sem título

José Eduardo Magalhães
Porto
24/8/2010

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

...

pode nem sempre ser assim; e eu digo
que se os teus lábios, que amei, tocarem
os de outro, e os teus dedos fortes e meigos cingirem
o seu coração, como o meu em tempos não muito distantes;
se na face do outro os teus suaves cabelos repousarem
nesse silêncio que eu sei, ou nessas
palavras sublimes e estremecidas que, dizendo demasiado
ficam desamparadamente diante do espírito vozeando;

se assim for, eu digo se assim for-
tu do meu coração, manda-me um recado;
que eu posso ir junto dele, e tomar as suas mãos,
dizendo, Aceita toda a felicidade de mim.
Então hei-de voltar a cara, e ouvir um pássaro
cantar terrivelmente longe nas terras perdidas.

e.e. cummings

terça-feira, 27 de julho de 2010

"O único princípio de vida é o masoquismo"

Em Moravagine de Blaise Cendrars:


    O amor é uma intoxicação grave, um vício, um vício que se gosta de partilhar, um vício no qual, se um dos comparsas se mostra empenhado, o outro não passa muitas vezes de cúmplice ou vítima ou de possesso. (...) O amor é masoquista. Esses gritos, essas queixas, essas suaves inquietações, esse estado de angústia dos apaixonados, esse estado de expectativa, esse sofrimento latente, subentendido, apenas manifestado, essas mil e uma preocupações acerca do ser amado, essa fugacidade do tempo, esses susceptibilidades, essas alternâncias de humor, essas divagações, essas criancices, essa tortura moral em que a vivacidade e o amor-próprio se encontram em jogo, a honra, a educação, o pudor, esses altos e baixos do tónus nervoso, esses desvarios da imaginação, esse feiticismo, essa precisão cruel dos sentidos que chicoteiam e que rebuscam, essa queda, essa prostração, essa abdicação, esse aviltamento, essa perda e essa recuperação perpétua da personalidade, esses embaraços, essas palavras, essas frases, esse emprego do diminutivo, essa familiariedade, essas excitações nos contactos, essa ternura epiléptica, essas recaídas sucessivas e multiplicadas, essa paixão cada vez mais perturbadora, tempestuosa e progressivamente devastadora até à completa inibição, ao completo aniquilamento da alma, até à atonia dos sentidos, até ao esgotamento do tutuano, ao vazio do cérebro, até à secura do coração, essa necessidade de prostração, de destruição, de mutilação, essa necessidade de efusão, de adoração, de misticismo, essa insaciabilidade que leva a pedir auxílio a hiperirritabilidade das mucosas, às divagações do gosto, às desordens vasomotoras ou periféricas e que apela para o cíume e para a vingança, para os crimes, para as mentiras, para as traições, essa idolatria, essa melancolia incurável, essa profunda miséria moral, essa dúvida definitiva e pungente, esse desespero, todos esses estigmas não constituem porventura os próprios sintomas do amor, segundo os quais se pode diagnosticar e seguidamente traçar com mão firme o quadro clínico do masoquismo?

   Mulier tota in utero – dizia Paracelso. É por isso que todas as mulheres são masoquistas. O amor nelas começa pelo rebentar de uma membrana e leva até ao completo despedaçar do ser, no momento do parto. Toda a vida delas é simples sofrimento. O sofrimento ensanguenta-as mensalmente. A mulher encontra-se sob o signo da Lua, esse reflexo, esse astro morto, e é por isso que, quanto mais a mulher dá a vida, mais gera a morte. Mais do que símbolo da geração, a mãe é o símbolo da destruição. E qual é a mãe que não preferiria matar e devorar os filhos, se ela assim tivesse a certeza de reservar para si o macho, de o guardar, de se deixar imbuir por ele, de o absorver por baixo, de o digerir, de o macerar nela, de o deixar reduzido ao estado de feto e de o levar assim toda a vida no seu seio? Porque é precisamente a isso, à absorção, à reabsorção do macho, que leva a essa infinita maquinaria do amor. O amor não tem outro fim e, como o amor é o único móbil da natureza, a única lei do universo é o masoquismo. Destruição e nada – é nisso que se cifra esse derramamento inexaurível dos seres. Um ser vivo nunca se adapta ao seu meio, ou então, ao adaptar-se, morre. A luta pela vida é a luta pela não adaptação. Viver é ser diferente. É por isso que todas as grandes espécies vegetais e zoológicas são monstruosas. E a mesma coisa acontece no aspecto moral. O homem e a mulher não estão feitos para se sentenderem, para se amarem, para se fundirem e confundirem. Pelo contrário, detestam-se e dilaceram-se um ao outro; e se, nesta luta que tem o nome de amor, a mulher passa por ser a eterna vítima, na realidade é o homem que se mata e se torna a matar. Porque o macho é o inimigo, o inimigo desajeitado, desastrado, especializado demais. A mulher é todo-poderosa, encontra-se mais à vontade na vida, tem vários centros erotogénicos, sabe portanto sofrer melhor, tem maior resistência, a sua libido dá-lhe peso, é ela a mais forte. O homem é escravo dela, entrega-se, rebola-se-lhe aos pés, abdica passivamente. Ele padece. A mulher é masoquista. O único princípio de vida é o masoquismo e o masoquismo é um princípio de morte. É por isso que a existência é idiota, imbecil, vã. Não tem nenhuma razão de ser. É por isso que a vida é inútil.

    A mulher é maléfica. A história das civilizações mostra-nos os meios postos em acção pelos homens para se defenderem do relaxamento e de efeminação. Artes, religiões, doutrinas, leis, imortalidade são afinal outras tantas armas inventadas pelos machos para resistirem ao prestígio universal da fêmea. Infelizmente, essa vâ tentativa nunca dá nem nunca dará resultado algum, porque a mulher triunfa de todas as abstracções. No decurso das idades, mais tarde ou mais cedo, vemos todas as civilizações cambalearem, desaparecerem, ruírem, caírem no abismo prestando homenagem À fêmea. Raras são as formas de sociedade que conseguiram resistir a esta tendência durante um certo número de séculos, tais como o colégio contemplativo dos brâmanes ou a comunidade categórica dos astecas; as outras, como a dos chineses, só inventaram afinal modos complicados de masturbação e de orações para acalmar o frenesim feminino ou então – é o caso das comunidades cristãs e budistas – tiveram de recorrer à castração, às penitências corporais, aos jejuns, à clausura, à introspecção, à análise psicológica para dar um novo derivativo ao homem. Nenhuma civilização se conseguiu alguma vez esquivar à apologética da mulher, a não ser algumas raras sociedades de jovens guerreiros machos e ardentes, cuja apoteose foi tão rápida como breve – por exemplo as civilizações pederastas de Nínive e de Babilónia -, foram mais consumidoras do que criadoras, desconheceram o menor freio para a sua actividade febril, o menor limite para o seu imenso apetite, o menor marco para as suas necessidades e, por assim dizer, se devoram a si mesmas, desaparecendo sem deixar rasto; é assim que morrem todas as civilizações parasitárias, arrastando um mundo completo atrás de si. Não há um só homem, em cada dez milhões, que escape a esta obsessão da mulher. Se a assassinasse, vibrar-lhe-ia um golpe directo; e o assassinato foi ainda o único meio efizaz que cem centenas de milhares de gerações de machos e milhares e milhares de séculos de civilização humana descobriram para não sofrerem o império da fêmea. Quer isto dizer que a natureza não conheces o sadismo e que a grande lei do universo – criação e destruição – é o masoquismo.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

DJ ESTALINE QUER OUVIR O POVO!

Camaradas,

Aceitam-se propostas de músicas para serem analisadas pelo Comité Central no sentido de serem passadas esta próxima sexta-feira. Podem pôr nos comentários

Obs: Só se aceitam músicas até 1989, mais precisamente até à queda do muro de Berlim. Obrigado.

O Vosso Ditador Preferido,

DJ Estaline

...

ao contrário do que se possa pensar, em terra de cegos quem tem um olho é deficiente

one from the heart...

hmmmm

terça-feira, 6 de julho de 2010

DJ Estaline vai ditar leis no V5

Da direita para a esquerda: David Bowie, Elvis Presley, Iggy Pop, Tom Waits, Jim Morrison, Bob Dylan, Ian Curtis, Mick Jagger, Janis Joplin, Lou Reed, John Lennon, Nick Cave, Johny Cash, António Variações
(Clica para ver em tamanho grande)

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Feira do Livro do Porto

os livros
ainda nos irão colocar as mãos nos corações,
o coração na boca,
a boca no ouvido,
o ouvido no silêncio
e o silêncio nestas mãos analfabetas.


sexta-feira, 21 de maio de 2010

haiku

verde
pinheiro seco
pequena sombra

quinta-feira, 20 de maio de 2010

SMS, 19 de Maio

Para: Professor Milton Madeira

Professor, escrevi um longo requerimento suportado nas leis e no regulamento da universidade, argumentando do ponto de vista científico a inadequação das objecções do júri à luz dos critérios de avaliação definidos. Contudo, após reflexão ponderada, decidi não enviar o requerimento. Abraço

Requerimento 18 de Maio

No dia 17 de Maio teve lugar a discussão e defesa da dissertação de mestrado "FILHOS DO DRAGÃO: CRENÇAS E EXPECTATIVAS INTERSUBJECTIVAS DE PAIS RELATIVAMENTE À PRÁTICA DE FUTEBOL DOS FILHOS NA ESCOLA DE FUTEBOL DRAGON FORCE DO FUTEBOL CLUBE DO PORTO",apresentada à Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Fernando Pessoa, como parte integrante dos requisitos para a obtenção do grau de Mestre em Psicologia Clínica e da Saúde.
O Júri, constituído pelo Professor Daniel Seabra, Professor Manuel Sérgio, e o Professor Milton Madeira (respectivamente, presidente, arguente e orientador), deliberou a aprovação da referida dissertação com a classificação de 15 valores.
Tendo em conta a classificação obtida e a forma como decorreu a discussão pública, venho por este meio requerer, de acordo com o artigo 19º do regulamento pedagógico da Universidade Fernando Pessoa, um Processo de Recurso de Classificação. Apesar de considerar que este pedido será, eventualmente, pouco habitual no caso de uma classificação referente a uma dissertação de mestrado, o referido artigo 19º não faz qualquer menção a esta unidade curricular em particular, não tendo encontrado qualquer referência no regulamento que proíba ou impeça esta possibilidade. Assim, cabe-me igualmente, de acordo com o artigo 19º, fundamentar devidamente este pedido de recurso. Assim, quero antes de mais esclarecer que este pedido não se prende com a qualidade do juri nomeado.
O Professor Manuel Sérgio é, sem dúvida, uma referência inigualável e de mérito reconhecido na área da Filosofia e Epistemologia do Desporto e da Motricidade Humana.Considero igualmente o Professor Daniel Seabra um grande autor de referência na àrea da Antropologia do Desporto, tendo eu próprio inclusivamente citado o seu importante trabalho na referida dissertação.Por último, tenho o professor Milton Madeira na mais alta estima, que muito me tem apoiado e ajudado com a sua sabedoria e experiência, quer como professor, quer como orientador de estágio e de dissertação.
Este pedido prende-se exclusivamente com determinadas objecções e discordâncias de cariz científico, que passo a explicar. As maiores objecções colocadas durante a defesa da dissertação foram, em primeiro lugar, a escolha do uso de metodologia quantitativa, quer da parte do arguente Manuel Sérgio, quer da parte do professor Daniel Seabra.
Esta dissertação recorre a metodologia quantitativa, tendo sido formulado um questionário próprio para avaliar crenças e expectativas de pais relativamente à prática de futebol dos seus filhos. Considero legítimo haver preferências pessoais dos investigadores quanto ao uso de um ou outro tipo de metodologias. Aliás, acrescente-se que eu próprio não tenho um especial apreço pelo uso de metodologia quantitativa, muito embora ao longo do meu percurso académico haver constatado que a metodologia quantitativa é a metodologia de investigação mais comunmente utilizada na àrea da Psicologia, sendo pouco comum em Portugal e na nossa universidade em particular o uso de metodologia qualitativa nesta àrea. Se escolhi utilizar metodologia quantitativa, deve-se ao facto de haverem diversos estudos quantitativos sobre esta mesma temática, muito embora alguns apontem para um desfasamento entre o que os pais afirmam e os seus comportamentos concretos (este mesmo capítulo onde são referidos vários destes estudos quantitativos, curiosamente foi elogiado pelo professor Daniel Seabra). Para suprir esta lacuna, contruí um instrumento de raíz utilizando metodologia inovadora nesta àrea, de análise da intersubjectivdade, com resultados que considero bastante interessantes.
No entanto, aquando da defesa não houve qualquer referência à parte prática desta dissertação, aos seus resultados e conclusões, tendo ao contrário sido criticado o uso de metodologia quantitativa em si, quer por parte do professor Daniel Seabra, quer por parte do professor Manuel Sérgio. Não foi explicado em que medida é que esta opção se ajusta ou não ao objecto de estudo em causa neste caso. O Professor Arguente, Manuel Sérgio, teceu longas considerações pessoais e gerais acerca do desporto, considerações estas que ouvi  tentamente dada a sua grande experiência acumulada ao longo de muitos anos, e que muito me agradou ouvir. Após vários minutos de considerações, o arguente criticou de forma geral o uso de metodologia quantitativa e, finalmente referindo-se à dissertação em causa formulou a seguinte questão que não soube responder: "Você percebe alguma coisa de epistemologia?", ao que respondi tentei responder respeitosamente que não saberia certamente tanto quanto o professor Manuel Sérgio. De seguida perguntou-me o que era um corte epistemológico e, assim que inicei a minha resposta fui interrompido pelo professor, continuando este a fazer comentários acerca do desporto e filosofia, bastante interessantes aliás, mas nunca fazendo referências específicas à dissertação em causa.
 Sua última questão foi "Quem é o pai da Epistemologia?". Sendo difícil para mim responder, na medida em que considero haver muitos epistemólogos importantes e de referência, não sabendo escolher somente um, referi dois nomes, Thomas Kuhn e Bachelard. Com esta resposta, o professor começou a tecer elogios a Bachelard e a discorrer comentários vários que, repito, apesar de muito interessantes, nunca se referiu em específico à tese, exceptuando o facto de ter elogiado o uso da obra de Karl Marx na dissertação. Passado bastante tempo, o professor deu por terminada a sua intervenção e não tive mais oportunidades de interpelar o arguente.
Em seguida, o professor Daniel Seabra fez o seu comentário, elogiando alguns capítulos da dissertação mas criticando o facto de, como já foi referido, ter usado metodologia quantitativa. Depois criticou também em particular um capítulo (Futebol, Totemismo e Religião), classificando-o de "delírio especulativo", na medida em que, segundo este, usei uma obra de Sigmund Freud, "Totem e Tabu", que este classificou como ultrapassada, sugerindo vários antropólogos modernos que descartam a visão de Freud. Desconhecendo eu os antropólogos referidos, na medida que estou naturalmente inclinado a usar autores de referência da àrea da Psicologia (como Freud), tendo contudo suportado esta interpretação na obra de outros dois autores, o antropólogo Desmond Morris e o ensaísta Àlvaro Magalhães que, na sua obra sobre futebol, fundamenta-se em vários autores da antropologia. Assim, perante a qualificação de "delírio especulativo", respondi respeitosamente que realmente se tratava de uma hipótese especulativa, decorrente de se tratar da parte teórica onde são lançadas várias hipóteses de interpretação, não fazendo qualquer menção ao qualificativo de "delírio", que não me ocorreu como poderia contrariar em termos científicos.
Por fim o professor Milton Madeira teceu também algumas considerações, elogiando o trabalho em geral, tendo sido o único elemento do juri que colocou comentou e colocou questões acerca da parte prática do trabalho. Assim, foi com grande surpresa que pude constatar a nota final de 15 valores, quando é da minha mais profunda convicção que o trabalho merecia uma melhor avaliação, e que vários dos seus aspectos de qualidade e inovadores não foram devidamente valorizados, tais como a parte prática, por preferências pessoais da maioria dos elementos do júri relativamente ao uso de uma determinada metodologia e, por outro lado, o uso de uma obra de um determinado autor (Totem e Tabu de Sigmund Freud, que considero, acreditando não ser o único, umas das obras-primas de Freud). É também de referir que achei algo paradoxal o facto de, no final, o professor Manuel Sérgio ter tecido grandes elogios, considerando-me um "jovem promissor de grande futuro", e que deveria "publicar o trabalho", achando este elogio estranhamente incompatível com a nota final. As preferências pessoais em relação a metodologias e autores são, repito, legítimas. Contudo, consultando os critérios do regulamento pedagógico da Universidade Fernando Pessoa, constato que, quer a escolha do uso de um autor como Freud, quer a opção pelo uso de metodologia quantitativa, nunca poderão ter um peso muito grande dentro dos critérios de avaliação definidos para uma dissertação de Mestrado. A saber:

1. Respeito das normas de edição
2. Qualidade gráfica do relatório escrito
3. Clareza do relatório escrito
4. Validade do tema
5. Complexidade e qualidade da pesquisa bibliográfica
6. Estrutura da monografia
7. Profundidade da análise e desenvolvimento do trabalho
8. Originalidade
9. Metodologia científica
10. Aplicação de conceitos apreendidos ao longo da licenciatura.
11. Interpretação dos resultados
12. Relação das conclusões com o problema investigado
13. Parecer:
14. Clareza da apresentação
15. Qualidade do material de apoio
16. Relevância das respostas dadas
17. Postura durante a apresentação

Mais uma vez, afirmo que o que me move neste pedido não é uma questão pessoal com nenhum dos elementos do júri, considerando-os pessoas de referência, cada um na sua àrea.
Contudo, é da minha mais profunda convicção que um parecer de um outro júri poderia ter outra classifcação e outra valorização e críticas diferentes, na medida em que as objecções colocadas a esta dissertação dizem respeito a preferências pessoais de alguns elementos do júri, o que, a meu ver, não estão enquadradas nos critérios de avaliação definidos.

Assim, sem mais delongas, aguardo uma resposta.

Com os melhores cumprimentos,

José Magalhães

Requerimento 9 de Março (DEFERIDO)

Exma. Directora da FCHS da Universidade Fernando Pessoa,

Chamo-me José Eduardo Fernandes Magalhães, sou aluno (no. 12402) finalista do Curso de Mestrado em Psicologia Clínica e da Saúde da Universidade Fernando Pessoa. Neste momento, para concluir a totalidade do plano de estudos resta apenas a defesa da dissertação de Mestrado, já entregue na Secretaria das Faculdades no dia 8 de Março de 2010, intitulada: Filhos do Dragão: Crenças e Expectativas Intersubjectivas de Pais relativamente à Prática de Futebol dos Filhos na Escola de Futebol Dragon Force do Futebol Clube do Porto.
Apesar desta dissertação ter sido entregue já fora do prazo previsto (dia 31 Outubro de 2009), efectuei no dia 26 de Janeiro um requerimento no sentido da prorrogação do prazo de entrega para o dia 28 de Fevereiro. Neste requerimento expus as circunstâncias que me levaram a não entregar a dissertação dentro deste prazo (...).
Contudo, no dia 28 de Fevereiro, não tinha ainda uma resposta ao pedido efectuado. Entreguei então no dia 8 de Março a Dissertação de Mestrado, e soube com consternação nesse dia que o pedido realizado tinha sido indeferido.
Neste momento estou desempregado, numa situação económica difícil, não tendo possibilidade de efectuar o pagamento da matrícula e respectivas propinas e as possibilidades de obter um novo emprego são bastante restritas enquanto não obtiver o diploma do Mestrado em Psicologia Clínica e da Saúde. É neste sentido que apelo humildemente a toda a sua compreensão e solidariedade, pedindo que seja aceite a Dissertação de Mestrado entretanto entregue ontem, sem ser necessária a realização de uma nova matrícula e as propinas (ECTS) da Dissertação de Mestrado.
Segue em anexo um parecer do Orientador de Estágio e de Dissertação, Prof. Doutor Milton Madeira.
Aguardando uma resposta favorável, agradeço desde já toda a atenção disponibilizada.
Com os melhores cumprimentos,

José Eduardo Fernandes Magalhães

Requerimento 26 de Janeiro

Exma. Directora da FCHS da Universidade Fernando Pessoa,

Chamo-me José Eduardo Fernandes Magalhães, sou aluno (no. 12402) finalista do Mestrado em Psicologia Clínica e da Saúde da Universidade Fernando Pessoa, tendo terminado o estágio curricular e faltando neste momento somente a entrega e a defesa da dissertação de Mestrado para concluir a totalidade do plano de estudos.
Acontece que na época do prazo limite de entrega da Dissertação, dia 31 Outubro de 2009, estava regularmente empregado no Gymboree, espaço de desenvolvimento infantil, a tempo integral com uma carga horária mínima de 40 horas e trabalhando aos fins-de-semana.
Tendo começado esta actividade profissional no dia 9 de Setembro de 2009, deixando de ter tempo para me dedicar aos afazeres académicos, havia decidido pagar a matrícula e a propina do próximo ano lectivo, para dedicar o tempo e disponibilidade que a dissertação de mestrado merece. Foi com esta expectativa que decidi não ser signatário da petição entretanto formulada por colegas que pretendiam a prorrogação do prazo para 31 de Janeiro de 2010.
Contudo, de forma inesperada, fui dispensado do emprego no dia 15 de Janeiro deste mês, deixando-me sem soluções para poder realizar o pagamento da matrícula e propinas do próximo ano lectivo.
Assim, venho deste modo apelar a toda a sua compreensão e atenção, pedindo o adiamento do prazo de entrega da dissertação de mestrado para o dia 28 de Fevereiro de 2010, sendo este  o tempo necessário para a a realização de um trabalho satisfatório em termos de qualidade e rigor mínimo que se exige para uma dissertação de mestrado, contando com toda a minha paixão e vontade em levar a bom porto a corrente investigação.
Resta-me acrescentar que certamente me faltarão palavras para expressar a minha satisfação e gratidão caso este meu pedido seja aceite.
 Segue em anexo, do Professor Milton Madeira, orientador da presente Dissertação de Mestrado, um parecer relativamente a esta situação. Também em anexo se incluem os últimos recibos de vencimento, prova da minha situação profissional anterior.

Aguardando uma resposta favorável, agradeço desde já toda a atenção disponibilizada.

Com os melhores cumprimentos,

Porto, UFP, 26 de Janeiro de 2010

José Eduardo Fernandes Magalhães

quinta-feira, 6 de maio de 2010

1872: Eça de Queirós fala da crise de Portugal e Grécia

"Nós estamos num estado comparável sómente à Grécia: mesma pobreza, mesma indignidade política, mesma trapalhada económica, mesmo abaixamento de caracteres, mesma decadência de espírito. Nos livros estrangeiros, nas revistas quando se fala num país caótico e que pela sua decadência progressiva, poderá... vir a ser riscado do mapa da Europa, citam-se a par, a Grécia e Portugal". Eça de Queirós, 1872, in "As Farpas":

quarta-feira, 28 de abril de 2010

BACK IN BLACK


DJ ESTALINE - 1 de MAIO: DIA DO TRABALHADOR - BAR MALI, SANTO TIRSO

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Psicanálise da Pedofilia na Igreja Católica segundo Zizek

As notícias cada vez mais frequentes de casos de pedofilia ocorridos na Igreja Católica, levam-nos a pensar como é possível conjugar a imagem do bom padre pregador da virtude e da renúncia com a imagem do padre pedófilo, predador sexual de crianças.
Como sempre, a psicanálise explica. Partilho aqui alguns trechos do artigo de Slavoj Zizek "A sedução do catolicismo":

" (...) Em "A Noviça Rebelde", Maria foge da família Von Trapp e volta ao convento, por não saber como lidar com a atração sexual que sente pelo barão Von Trapp. Numa cena memorável, a madre superiora a convoca e a aconselha a voltar à família Von Trapp e tentar resolver sua relação com o barão. Ela dá essa mensagem a Maria numa canção bizarra, "Climb Every Mountain!" [Escale Todas as Montanhas], cujo recado surpreendente é "vá lá, faça! Corra o risco! Faça o que seu coração está pedindo; não deixe que considerações pequenas se interponham em seu caminho!". A força surpreendente dessa cena consiste na manifestação inesperada do desejo, que torna a cena literalmente constrangedora: justamente a pessoa de quem mais se poderia esperar que pregasse a renúncia e a abstenção se mostra agente da fidelidade para com o desejo.

Significativamente, quando "A Noviça Rebelde" foi exibido na Iugoslávia (ainda socialista) no final dos anos 1960, essa cena -os três minutos que dura a canção- foi o único trecho do filme a ter sido censurado. Com isso, o anônimo censor socialista demonstrou sua sensibilidade profunda em relação ao poder verdadeiramente perigoso da ideologia católica: longe de ser uma religião do sacrifício, da renúncia aos prazeres terrenos, o cristianismo oferece um estratagema tortuoso para que possamos realizar nossos desejos sem precisarmos pagar o preço por eles, para desfrutarmos a vida sem o medo da decadência e da dor debilitante que nos aguardam ao final do dia. Assim, existe um elemento de verdade em uma piada sobre a oração ideal que uma garota cristã faz à Virgem Maria: "Vós que concebeste sem pecar, permita que eu peque sem precisar conceber!". No funcionamento perverso do cristianismo, a religião é evocada como salvaguarda que nos permite gozar a vida com impunidade.

(...)

O que, então, nos permite concluir que esses crimes e obscenidades sexuais integram a própria identidade da igreja enquanto instituição? Não os atos em si, mas a maneira como a igreja reage quando eles vêm à tona: uma atitude defensiva, brigando por cada milímetro que é obrigada a conceder, reduzindo as acusações ao fomento de escândalos, a propaganda anticatólica, fazendo todo o possível para minimizar e isolá-los, oferecendo reconhecimentos condicionais ("se algum crime de fato foi cometido, então, é claro, a igreja o condena"). Fazendo a alegação absurda de que deve se permitir que a igreja cuide dos problemas à sua própria maneira, oferecendo soluções burocráticas "elegantes" que poupam a todos (os responsáveis pelos abusos recebem licença médica ou são afastados como parte de uma reorganização administrativa "normal"). Assim, quando representantes da igreja insistem que esses casos, por deploráveis sejam, são parte do problema interno da igreja, manifestando grande relutância em colaborar com as investigações policiais, eles têm razão, de certa forma: a pedofilia de padres católicos não é algo que diz respeito apenas às pessoas envolvidas, que, por razões acidentais de uma história pessoal que não guarda relação com a Igreja Católica como tal, optaram pela profissão de padre. É um fenômeno que concerne à Igreja Católica ela própria, que é inscrito no próprio funcionamento da igreja como instituição sociosimbólica. Não diz respeito ao inconsciente "particular" dos indivíduos, mas ao "inconsciente" da própria instituição. Não é algo que acontece porque a instituição, para sobreviver, seja obrigada a adaptar-se à realidade patológica da vida da libido, mas algo de que a própria instituição necessita para poder se reproduzir.Em outras palavras, o que acontece não é apenas que, por razões conformistas, a igreja tente abafar os escândalos pedofílicos embaraçosos: ao defender-se, a igreja defende seu segredo obsceno e mais interno. O que isso quer dizer é que identificar-se com esse lado oculto é um elemento-chave da própria identidade de um sacerdote cristão. Se o padre denunciar esses escândalos seriamente (não apenas da boca para fora), ele estará se excluindo da comunidade eclesiástica. Deixará de ser "um de nós", exatamente como um cidadão de uma cidade do sul dos Estados Unidos, na década de 1920, se denunciasse a Ku Klux Klan à polícia, se excluía de sua comunidade, ou seja, traía sua solidariedade fundamental. Essa é também a razão pela qual não se podem explicar esses escândalos sexuais como manipulação dos adversários do celibato, que querem comprovar que, se os desejos sexuais dos padres não encontrarem via de expressão autorizada, terão que explodir de maneira patológica. Autorizar os padres católicos a se casarem não resolveria nada: não teríamos padres que fazem seu trabalho sem molestar meninos, já que a pedofilia é gerada pela instituição católica do sacerdócio como sua "transgressão inerente", seu complemento secreto e obsceno.

Consequentemente, a resposta à relutância da igreja não deve ser apenas a de que estamos lidando com os casos criminosos e que, se a Igreja não participar plenamente da investigação, será vista como cúmplice no crime; e, ademais, que a igreja "em si", como instituição, deve ser investigada para a averiguação da maneira como ela sistematicamente cria condições para tais crimes. A alegação de que se deve deixar que a igreja cuide sozinha dos crimes de pedofilia cometidos por seus membros não é problemática apenas desde o ponto de vista puramente legal, já que reivindica para a igreja uma espécie de direito extraterritorial mesmo para os crimes comuns, que se enquadram no direito criminal público. Mais ainda, o que a igreja deve fazer, se ela quiser de fato combater seriamente a pedofilia em seu interior, é não apenas dar à polícia liberdade plena para interrogar seus membros e colaborar plenamente com as investigações mas também encarar seriamente a questão de sua própria responsabilidade, enquanto instituição, nesses crimes. É assim que a própria igreja precisa enfrentar o problema.

quinta-feira, 18 de março de 2010

DJ Estaline está de volta!

No próximo dia 3 de Abril, o meu alter-hegel DJ Estaline fará um golpe de estado no Bar Mali em Santo Tirso. Agradeço ao Ronaldo por ter feito neste cartaz uma obra de arte.

segunda-feira, 15 de março de 2010

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

História das Palavras - Almada Negreiros

As mulheres e os homens estavam espalhados pela Terra. Uns estavam maravilhados, outros tinham-se cansado. Os que estavam maravilhados abriam a boca, os que se tinham cansado também abriam a boca. Ambos abriam a boca.

Houve um homem sozinho que se pôs a espreitar esta diferença - havia pessoas maravilhadas e outras que estavam cansadas.

Depois ainda espreitou melhor: Todas as pessoas estavam maravilhadas, depois não sabiam agüentar-se maravilhadas e ficavam cansadas.

As pessoas estavam tristes ou alegres conforme a luz para cada um - mais luz, alegres - menos luz, tristes.

O homem sozinho ficou a pensar nesta diferença. Para não esquecer, fez uns sinais numa pedra.

Este homem sozinho era da minha raça - era um Egípcio!

Os sinais que ele gravou na pedra para medir a luz por dentro das pessoas, chamaram-se hieróglifos.

Mais tarde veio outro homem sozinho que tornou estes sinais ainda mais fáceis. Fez vinte e dois sinais que bastavam para todas as combinações que há ao Sol.

Este homem sozinho era da minha raça - era um Fenício.

Cada um dos vinte e dois sinais era uma letra. Cada combinação de letras uma palavra.

Todos dias faz anos que foram inventadas as palavras.

É preciso festejar todos os dias o centenário das palavras.

Almada Negreiros

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

o outono das revoluções




Tirado de: Instituto Superior do Vira

since feeling is first

since feeling is first
who pays any attention
to the syntax of things
will never wholly kiss you;

wholly to be a fool
while Spring is in the world

my blood approves,
and kisses are a better fate
than wisdom
lady i swear by all flowers. Don't cry
- the best gesture of my brain is less than
your eyelids' flutter which says

we are for each other; then
laugh, leaning back in my arms
for life's not a paragraph

And death i think is no parenthesis

e. e. cummings

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Whisky you a new good Beer

Este blog fez dois anos há pouco tempo e tem sido muito mal tratado pelo dono. Hoje vamos descer um pouco mais fundo, mostrando-me em todo o meu amadorismo musical neste vídeo que dedico a todos, com votos de um bom ano.