"Think about marriage and divorce: the most intelligent argument for the right to divorce (proposed, among others, by none other than the young Marx) does not refer to common vulgarities in the style of “like all things, love attachments are also not eternal, they change in the course of time,” etc.; it rather concedes that indissolvability is in the very notion of marriage. The conclusion is that divorce always has a retroactive scope: it does not only mean that marriage is now annulled, but something much more radical – a marriage should be annulled because it never was a true marriage. And the same holds for Soviet Communism: it is clearly insufficient to say that, in the years of Brezhnev “stagnation,” it “exhausted its potentials, no longer fitting new times”; what its miserable end demonstrates is that it was a historical deadlock from its very beginning."
domingo, 20 de dezembro de 2009
quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
cadáver esquisito
as pessoas são como as
estações, e não são as reprodutivas,
apesar de não se fazer outra coisa senão
copular uivando, suando e arfando. Sabe
bem. Às vezes confundia-se com o mal,
mas era sempre bom. As magnólias.
chupar, trincar, comer, dormir,
lamber, amanhecer, chover. sujeito, verbo,
predicado, objecto, dejecto, reflexo, desejo,
ensejo. Ainda que não seja tão belo como um
percevejo, tenho algumas aspirações.
o ar que sobe e o ar que desce. As cidades
desorganizadas dão à luz mutantes,
brinquedos, segredos e doces medos.
Estão ainda por inventar as palavras
com que te despias e me despias.
Fotografar a alma a preto e branco.
A educação educa. A civilização civiliza.
O homem fode. E não dói
José Magalhães & Paulo Lima Santos
estações, e não são as reprodutivas,
apesar de não se fazer outra coisa senão
copular uivando, suando e arfando. Sabe
bem. Às vezes confundia-se com o mal,
mas era sempre bom. As magnólias.
chupar, trincar, comer, dormir,
lamber, amanhecer, chover. sujeito, verbo,
predicado, objecto, dejecto, reflexo, desejo,
ensejo. Ainda que não seja tão belo como um
percevejo, tenho algumas aspirações.
o ar que sobe e o ar que desce. As cidades
desorganizadas dão à luz mutantes,
brinquedos, segredos e doces medos.
Estão ainda por inventar as palavras
com que te despias e me despias.
Fotografar a alma a preto e branco.
A educação educa. A civilização civiliza.
O homem fode. E não dói
José Magalhães & Paulo Lima Santos
quarta-feira, 9 de dezembro de 2009
Mão Morta: Vocabulário
faca, sangue, flamejante, morte, sexo, arrastando, tu disseste, lua, cão, amesterdão, animais, televisão, jogo, destroços, escravos, alienação, vertigem, revolução, morgue, bófia, vénus, tetas, ódio, lisboa, vento, desejo.
enchantagem
de tanto não fazer nada
acabo de ser culpado de tudo
esperanças, cheguei
tarde demais como uma lágrima
de tanto fazer tudo
parecer perfeito
você pode ficar louco
ou para todos os efeitos
suspeito
de ser verbo sem sujeito
pense um pouco
beba bastante
depois me conte direito
que aconteça o contrário
custe o que custar
deseja
quem quer que seja
tem calendário de tristezas
celebrar
tanto evitar o inevitável
in vino veritas
me parece
verdade
o pau na vida
o vinagre
vinho suave
pense e te pareça
senão eu te invento por toda a eternidade
Paulo Leminsky
retirado de: kamiquase
terça-feira, 8 de dezembro de 2009
os poetas e os padres de william blake
The ancient Poets animated all sensible objects with Gods or Geniuses, calling them by the names and adorning them with the properties of woods, rivers, mountains, lakes, cities, nations, and whatever their enlarged & numerous senses could percieve. And particularly they studied the genius of each city & country, placing it under its mental deity.
Till a system was formed, which some took advantage of & enslav'd the vulgar by attempting to realize or abstract the mental deities from their objects; thus began Priesthood.
Choosing forms of worship from poetic tales. And a length they pronounc'd that the Gods had order'd such things. Thus men forgot that All deities reside in the human breast.
Till a system was formed, which some took advantage of & enslav'd the vulgar by attempting to realize or abstract the mental deities from their objects; thus began Priesthood.
Choosing forms of worship from poetic tales. And a length they pronounc'd that the Gods had order'd such things. Thus men forgot that All deities reside in the human breast.
William Blake
segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
Adeus Camarada.
O Camarada Hugo Gouveia, de Santo Tirso, faleceu na noite de quarta-feira. Atirou-se da ponte da Arrábida. Deixou uma carta aos pais dizendo que não queria viver mais nesta sociedade. Apagou tudo o que tinha no computador. Vou ter saudades tuas, Hugo.
Nesta foto, o Hugo está com seu ar pensativo muito característico. Esta foto foi tirada num jantar da JCP aqui no Porto. Na altura fomos um pequeno grupo de camaradas no carro que o Partido nos emprestou para irmos de Santo Tirso até ao Porto. Um carro velhinho que o Hugo conduziu para lá e para cá, não sem o necessário empurrão dos camaradas para que este pegasse. No jantar, comemos e bebemos. E rimos. Éramos felizes.
Era amigo do Hugo há cerca de 7 anos, altura que entrei na JCP. Na altura, tinha eu 18 anos, conheci o Hugo que era um ano mais novo que eu na primeira reunião que tive. Na altura ele tinha o cabelo bastante comprido e uma t-shirt com uma foice e um martelo. Notava-se logo com as primeiras palavras trocadas com ele, que se tratava de alguém muito inteligente. E, de facto, ao longo destes anos tive com ele conversas muito profundas. E o conhecimento do Hugo não vinha dos livros. Apenas citava Marx e Lenine. Tudo o resto era dele. Falava como um filósofo sem ler qualquer livro de filosofia. O Hugo era um ser muito reflexivo. Como grande parte de mim também é assim, muitas vezes, com grupos maiores de amigos, começávamos a falar sobre problemas da vida e da existência e isolávamo-nos. O teor da nossa conversa não passa no crivo da tagarelice de circunstância. Discutíamos muito e discordávamos ardentemente. O Hugo era ateu materialista convicto. Sempre que lhe falava em monges e parábolas ele ficava intelectualmente irritado. O Hugo gostava de falar de utopias, da sociedade perfeita, do estado comunista perfeito. Era assim o Hugo. Nunca estive com ele muito regularmente, mas sempre nos vimos de tempos a tempos, normalmente no Partido. Trabalhámos na festa do Avante, a montar e a desmontar barracas e a lavar pratos. Fizemos reuniões, colámos cartazes. No fim, bebíamos uma cerveja e conversávamos. Falávamos de livros e do mundo. Numa dessas vezes eu tirei-te esta foto contigo junto dos cartazes mais bizarros que já alguma vez se colaram. Foi na Escola Secundária D.Dinis, à noite.
Com a tua despedida precoce, com 24 anos, deixas em choque todos quanto reconheciam o que havia de especial na tua pessoa. Entre eles eu me incluo. Dói-me pensar que te deixámos ir sem que ninguém te deitasse a mão. Há algum tempo que não estava contigo. Meses. Mas, entretanto, há uma semana, pensei em ti. Pensei em ligar-te um dia destes para irmos beber um copo. Entretanto, não cheguei a ligar. Não sei como estavas. Eras um ser solitário. Não sei o que te levou a quereres ires embora desta vida, desta maneira. Mas não escapas desta vida impunemente. Deixas uma ferida em todos quantos deixaste a tua marca neste mundo e não me esquecerei de ti. Adeus Hugo.
Nesta foto, o Hugo está com seu ar pensativo muito característico. Esta foto foi tirada num jantar da JCP aqui no Porto. Na altura fomos um pequeno grupo de camaradas no carro que o Partido nos emprestou para irmos de Santo Tirso até ao Porto. Um carro velhinho que o Hugo conduziu para lá e para cá, não sem o necessário empurrão dos camaradas para que este pegasse. No jantar, comemos e bebemos. E rimos. Éramos felizes.
Era amigo do Hugo há cerca de 7 anos, altura que entrei na JCP. Na altura, tinha eu 18 anos, conheci o Hugo que era um ano mais novo que eu na primeira reunião que tive. Na altura ele tinha o cabelo bastante comprido e uma t-shirt com uma foice e um martelo. Notava-se logo com as primeiras palavras trocadas com ele, que se tratava de alguém muito inteligente. E, de facto, ao longo destes anos tive com ele conversas muito profundas. E o conhecimento do Hugo não vinha dos livros. Apenas citava Marx e Lenine. Tudo o resto era dele. Falava como um filósofo sem ler qualquer livro de filosofia. O Hugo era um ser muito reflexivo. Como grande parte de mim também é assim, muitas vezes, com grupos maiores de amigos, começávamos a falar sobre problemas da vida e da existência e isolávamo-nos. O teor da nossa conversa não passa no crivo da tagarelice de circunstância. Discutíamos muito e discordávamos ardentemente. O Hugo era ateu materialista convicto. Sempre que lhe falava em monges e parábolas ele ficava intelectualmente irritado. O Hugo gostava de falar de utopias, da sociedade perfeita, do estado comunista perfeito. Era assim o Hugo. Nunca estive com ele muito regularmente, mas sempre nos vimos de tempos a tempos, normalmente no Partido. Trabalhámos na festa do Avante, a montar e a desmontar barracas e a lavar pratos. Fizemos reuniões, colámos cartazes. No fim, bebíamos uma cerveja e conversávamos. Falávamos de livros e do mundo. Numa dessas vezes eu tirei-te esta foto contigo junto dos cartazes mais bizarros que já alguma vez se colaram. Foi na Escola Secundária D.Dinis, à noite.
Com a tua despedida precoce, com 24 anos, deixas em choque todos quanto reconheciam o que havia de especial na tua pessoa. Entre eles eu me incluo. Dói-me pensar que te deixámos ir sem que ninguém te deitasse a mão. Há algum tempo que não estava contigo. Meses. Mas, entretanto, há uma semana, pensei em ti. Pensei em ligar-te um dia destes para irmos beber um copo. Entretanto, não cheguei a ligar. Não sei como estavas. Eras um ser solitário. Não sei o que te levou a quereres ires embora desta vida, desta maneira. Mas não escapas desta vida impunemente. Deixas uma ferida em todos quantos deixaste a tua marca neste mundo e não me esquecerei de ti. Adeus Hugo.
domingo, 6 de dezembro de 2009
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