"Desejar é a coisa mais simples e humana que existe. Porque é que, então, até os nossos desejos são para nós inconfessáveis, porque é que é tão difícil transformá-los em palavras? Tão difícil que acabamos por mantê-los escondidos, que construímos para eles, algures dentro de nós, uma cripta onde permanecem embalsamados, à espera.
Não podemos transpôr para a linguagem os nossos desejos porque os imaginamos. Na realidade, a cripta contém, apenas, imagens, tal como um livro ilustrado para crianças que ainda não sabem ler; tal com as images d'Epinal de um povo analfabeta. O corpo dos desejos é uma imagem. E aquilo que é inconfessável no desejo é a imagem que fazemos dele.
Comunicar a alguém os nossos desejos sem as imagens é uma brutalidade. Comunicar-lhe as imagens sem os desenhos é enfadonho (como contar os sonhos ou as viagens). Mas fácil em ambos os casos. Comunicar os desejos imaginados e as imagens desejadas é a tarefa mais árdua. Por isso o adiamos. Até ao momento em que começamos a perceber que permanecerá para sempre sem resposta. E que aquele desejo inconfessado somos nós próprios, para sempre prisioneiros da cripta (...)"
Não podemos transpôr para a linguagem os nossos desejos porque os imaginamos. Na realidade, a cripta contém, apenas, imagens, tal como um livro ilustrado para crianças que ainda não sabem ler; tal com as images d'Epinal de um povo analfabeta. O corpo dos desejos é uma imagem. E aquilo que é inconfessável no desejo é a imagem que fazemos dele.
Comunicar a alguém os nossos desejos sem as imagens é uma brutalidade. Comunicar-lhe as imagens sem os desenhos é enfadonho (como contar os sonhos ou as viagens). Mas fácil em ambos os casos. Comunicar os desejos imaginados e as imagens desejadas é a tarefa mais árdua. Por isso o adiamos. Até ao momento em que começamos a perceber que permanecerá para sempre sem resposta. E que aquele desejo inconfessado somos nós próprios, para sempre prisioneiros da cripta (...)"
Giorgio Agamben em: Profanações
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