Outro dia vi um documentário sobre o mundo da pornografia feito por um jornalista do Daily Show, não me lembro agora do nome dele. A determinada altura entrevista um actor que fazia todo o tipo de cenas, sexo com mulheres, homens, anal, oral, tudo e mais alguma coisa. Então perguntam-lhe se ele é Gay ao que ele responde firmemente que não! Insistindo, perguntam-lhe se não acha que o facto de fazer sexo com outros homens faz dele gay, ao que ele insiste dizendo que não: "Ah isto é só meu trabalho, na verdade eu não sou gay!"
Isto é o exemplo clássico e perfeito para demonstrar o carácter de alienação do trabalho no mundo moderno. O trabalho, o que a pessoa faz, é visto como algo de separado do sujeito. As pessoas não são engenheiros, pedreiros ou jornalistas. As pessoas têm empregos de engenheiros, pedreiros, jornalistas. Através da divisão entre vida pessoal e familiar, opera-se esta cisão, fazendo com que não haja plena identificação com aquilo que se faz.
Zizek lembra e bem, que na época medieval, quando a sociedade estava dividida por ordens sociais rígidas, nobreza, clero, povo, etc, se perguntássemos a um cavaleiro qual era a sua profissão, essa pergunta pareceria extremamente estúpida. Ele não responderia que tinha a profissão de cavaleiro mas sim "Eu sou um cavaleiro", todo orgulhoso e inchado, com a mão no peito.
Hoje em dia, os Sócrates deste mundo elogiam a "flexisegurança", que consiste em mudar de emprego como quem muda de cuecas, que é consistente com a ideia consumista de mudar sempre de televisão, de carro (ou de mulher), sempre que se encontra uma versão melhor. É neste sentido que Baudelaire inventou o termo "moderno" como a idade da "moda".
"Isto é só o meu trabalho" é a desculpa que as pessoas dão quando não querem admitir para si mesmas aquilo que realmente fazem. O trágico é haver imensos trabalhos imorais (convencer pessoas a comprar coisas que não precisam ou fazer sexo em frente da câmara para vender) que as pessoas fazem para ganhar dinheiro e tentam defender-se dessa imoralidade, operando uma cisão entre aquilo que fazem e aquilo que são.
Minha sugestão é implantar aqui um either/or kierkegaardiano: ou assumir o que se faz, (eu sou pior que todos os gays, sou gay apenas para ganhar dinheiro) ou então rejeitar fazê-lo como um Bartleby, com um "I would prefer not to!"
sexta-feira, 27 de junho de 2008
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