Comprei um livro de Zizek na Fnac por 4,5 euros: "Os Direitos humanos e o Nosso Descontentamento". Este pequeno livro com pouco mais de 40 páginas é uma transcrição de uma comunicação feita por Slavoj Zizek em 1999 sobre os direitos humanos na altura em que se deu o bombardeamento da Nato sobre a Jugoslávia, na altura contra a limpeza étnica operada por Milosevic no Kosovo.
Zizek fala-nos um pouco das relações entre todos aqueles países da antiga Jugoslávia. Nestes, inclui-se a Eslovénia que teve a sua independência muito cedo. Sobre os seus compatriotas, Zizek diz: "Nós, eslovenos, não somos ninguém, somos retrógrados, andamos a copular com ovelhas, com animais. Não tenho quaisquer ilusões sobre nós, eslovenos"
Mais a sério, ou nem por isso, Zizek explica como os direitos humanos são na verdade os direitos que nos permitem violar os 10 mandamentos: "O que significa o direito à privacidade? Basicamente, o direito ao adultério, praticado em segredo, quando ninguém nos vê ou ninguém tem o direito de se imiscuir na no nossa vida. O que significa o direito de perseguir a felicidade e de possuir propriedade privada? Basicamente o direito a roubar, a explorar os outros. O que significa a liberdade de imprensa e a liberdade de expressar a opinião? O direito a mentir. O direito que os cidadãos livres têm de possuir armas - é claramente o direito de matar. E, em última análise, a liberdade de crença religiosa - o direito de celebrar falsos deuses."
Zizek fala também nas diferenças políticas entre a esquerda e a direita nos dias de hoje. Fazendo lembrar Lyotard, refere o desaparecimento das grandes narrativas e projectos históricos-políticos da direita e da esquerda nos tempos que correm. Vivemos hoje como se tivéssemos chegado finalmente ao futuro e que agora não há mais nada para a frente: "Há duas décadas atrás as pessoas ainda discutiam o futuro político da humanidade. Será que o capitalismo vai prevalecer ou será que vai ser suplantado pelo comunismo ou por uma outra forma de totalitarismo? Hoje em dia, pelo contrário, podemos imaginar facilmente a extinção da vida humana, da raça humana, ou o fim da vida na terra, mas é impossível imaginar uma alteração muito mais modesta do sistema social - é como se, mesmo que se extinguisse toda a vida na Terra, o capitalismo pudesse de alguma forma permanecer intacto. Portanto, é possível imaginar o fim do mundo, mas não é possível imaginar o fim do capitalismo."
Zizek fala-nos ainda da "Terceira Via": "Não é sintomático que a conversa sobre a terceira via se torne tão popular precisamente na altura em que os últimos vestígios da segunda via desapareceram? Hoje em dia não existe segunda via. Assim, o que a terceira via significa é precisamente que não existe uma segunda via."
Vemos aqui como o marxismo de Zizek assume contornos muito peculiares, em certos pontos distanciando-se bastante da imagem tradicional daquilo que é ser de esquerda. Tal como quando defende uma visão do cristianismo como uma ideologia revolucionária. A este respeito fizeram-lhe a seguinte pergunta: "A sua postura ideológica alterou-se, tornou-se menos marxista? - Zizek: Não, que eu saiba não. Quando muito, tornei-me mais marxista."
domingo, 16 de março de 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
3 comentários:
sem querer simplificar muito pelo que dele li recentemente pareceu-me um pouco um marxista new age
Hmm. O Zizek tem pavor ao new age.
Ele tem um poster do Estaline no hall de entrada de casa dele para espantar esses espíritos.
O marxista new ager gosta da ecologia. Zizek diz que a ecologia é simplesmente um novo mercado de exploração capitalista
O new ager gosta de culturas orientais. Já Zizek diz que prefere o Papa ao Buda.
Eu por exemplo gosto mais do Buda do que do Papa. A mim podem-me chamar um marxista new-ager ou lá o que é. Mas o Zizek não, ele não é desses.
Excelente postagem.
O Zizek é sem dúvida muito original.Seu texto deve ser compreendido pelos nexos que se verificam nas entrelinhas de seus textos.Quando ele critica a democracia e os direitos humanos parece se opor,na verdade,ao esvaziamento dessas duas tradições na contemporaneidade.
Acho que as vivências do leste europeu também o influenciam muito,todas as tragédias vividas permanentemente pela região,seja no socialismo real,seja na "democracia liberal",como ele afirma.Mas o próprio tentara se eleger presidente pelo Partido Liberal Democrata,projeto que aparentemente ele negaria em seus textos.
Esse é um dos motivos que torna premente a leitura de suas obras,entendê-lo é entender o conflito esquizofrênico da política atual.
Postar um comentário