Outro dia um homem abordou-me no meu caminho para a estação, numa das principais ruas de Espinho: "Você conhece os textos védicos?". Eu disse-lhe que sim, que conhecia e pensei nesses textos com cerca 8000 anos de existência, transmitida primeiro por via oral e depois por via escrita. São textos sagrados, muitos deles são base das religiões budista, hinduísta e não só.
Comecei a falar com o homem e ele me descreveu sucintamente os preceitos e modo de vida védicos. Casam-se aos 25, efectuam retiro espiritual aos 50. Não bebem, não fumam, são vegetarianos. Deu-me um livrinho chamado "Vida Simples, Pensamento Elevado".
Continuámos a falar mais um bocadinho antes de nos despedirmos amigavelmente. Pelo caminho olhei para o livrinho que ele me deu. Na capa, via-se na parte inferior, um homem despindo um uniforme de trabalho escuro e sujo, caindo no meio de porcaria, indo em direcção a um cenário campestre de fundo, bucólico, com natureza, vaquinhas, muita relva verde e crianças nadando no rio: a vida em comunidade em harmonia com a natureza. Pensei nos testemunhas de Jeová, com quem sempre gostei de discutir, e que também gostam de falar no paraíso prometido. Mas estes falam no paraíso como algo a alcançar depois da morte, no fim de uma vida de trabalho. Contrariamente, as comunidades védicas advogam o abandono do trabalho e da cidade para viver em vida esse paraíso junto da natureza, restringindo-se dos prazeres do consumismo citadino. Esta última perspectiva, a de querer um paraíso na terra e não numa qualquer vida depois da morte, pareceu-me mais de acordo com uma perspectiva marxista.
Comecei a ler o livrinho e perdi as minhas dúvidas acerca da proximidade dos vedas com Marx. Senão vejam o que diz o sábio Bhaktivedanta Swami Prabhupada;
"Quanto mais continuarmos a aumentar essas indústrias problemáticas para sufocar a energia vital do ser humano, tanto mais haverá inquietação e insatisfação das pessoas em geral, embora apenas umas poucas pessoas possam viver sumptuosamente através da exploração. (...) A produção de máquinas operatrizes e ferramentas aumenta o modo de vida artificial de uma classe de proprietários interessados e mantém milhares de homens à míngua e na inquietação."
Agora comparemos com o que diz Marx em "O Capital": "À medida que diminui o número de grandes capitalistas que usurpam e monopolizam todas as vantagens deste processo de transformação, cresce a miséria, a opressão, a escravidão, a degenerescência, a exploração, mas também a revolta da classe operária"
A diferença mais óbvia entre os vedas e o marxismo, aparentemente, é uma ser de origem oriental e outro ocidental. Mas essa oposição desfaz-se se considerarmos que o marxismo é uma doutrina económica e política. É que a ciência económica ocidental moderna nada seria sem a matemática. Aliás, sem matemática não teríamos coisas como dinheiro, tecnologia, ciência, computadores, todas essas coisas coisas que identificamos como fazendo parte da essência do mundo ocidental. Isto porque a matemática não foi inventada no ocidente. Foi-nos trazida pela cultura árabe, e quem a transmitiu aos àrabes foram... os vedas, na índia.
Na época em que o maior número que os gregos e romanos usavam era 10 6, os hindus usavam números como 10 53 (ou seja, 10 elevado a potência de 53), com nomes específicos pra isso.
Por volta do séc. 5 d.C, enquanto o Ocidente utilizava ainda os desajeitados algarismos romanos, desenvolveu-se na Índia o sistema decimal posicional, idêntico ao que usamos hoje. Nosso sistema é o próprio sistema hindu, transmitido ao Ocidente através dos árabes séculos depois. Os nomes desses algarismos em sânscrito são claro testemunho desta origem oriental:
1 eka, 2 dvi, 3 tri, 4 catur, 5 panca, 6 sat, 7 sapta, 8 asta, 9 nava.
Também foi inventado pelo indiano Aryabhatta o número "zero" (chamado de "vazio"), ingrediente fundamental para uma numeração verdadeiramente posicional.
Interessante também é esta notícia que, acerca da extrema competitividade ao nível da matemática entre os alunos indianos no acesso a cursos de engenharia, tem-se popularizado o uso da chamada matemática védica. São usadas fórmulas de cálculo matemático que são extrapoladas a partir de fontes dos textos védicos. Pradeep Kumar, que ensina matemática védica, diz que há um interesse crescente entre os aspirantes ao Instituto Indiano de Tecnologia em ter ajuda da matemática védica. Ele ensina mais de 200 estudantes na sala e cerca de 600 através de cursos de longa distância. Vejam esta notícia neste link.
terça-feira, 12 de fevereiro de 2008
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