terça-feira, 27 de julho de 2010

"O único princípio de vida é o masoquismo"

Em Moravagine de Blaise Cendrars:


    O amor é uma intoxicação grave, um vício, um vício que se gosta de partilhar, um vício no qual, se um dos comparsas se mostra empenhado, o outro não passa muitas vezes de cúmplice ou vítima ou de possesso. (...) O amor é masoquista. Esses gritos, essas queixas, essas suaves inquietações, esse estado de angústia dos apaixonados, esse estado de expectativa, esse sofrimento latente, subentendido, apenas manifestado, essas mil e uma preocupações acerca do ser amado, essa fugacidade do tempo, esses susceptibilidades, essas alternâncias de humor, essas divagações, essas criancices, essa tortura moral em que a vivacidade e o amor-próprio se encontram em jogo, a honra, a educação, o pudor, esses altos e baixos do tónus nervoso, esses desvarios da imaginação, esse feiticismo, essa precisão cruel dos sentidos que chicoteiam e que rebuscam, essa queda, essa prostração, essa abdicação, esse aviltamento, essa perda e essa recuperação perpétua da personalidade, esses embaraços, essas palavras, essas frases, esse emprego do diminutivo, essa familiariedade, essas excitações nos contactos, essa ternura epiléptica, essas recaídas sucessivas e multiplicadas, essa paixão cada vez mais perturbadora, tempestuosa e progressivamente devastadora até à completa inibição, ao completo aniquilamento da alma, até à atonia dos sentidos, até ao esgotamento do tutuano, ao vazio do cérebro, até à secura do coração, essa necessidade de prostração, de destruição, de mutilação, essa necessidade de efusão, de adoração, de misticismo, essa insaciabilidade que leva a pedir auxílio a hiperirritabilidade das mucosas, às divagações do gosto, às desordens vasomotoras ou periféricas e que apela para o cíume e para a vingança, para os crimes, para as mentiras, para as traições, essa idolatria, essa melancolia incurável, essa profunda miséria moral, essa dúvida definitiva e pungente, esse desespero, todos esses estigmas não constituem porventura os próprios sintomas do amor, segundo os quais se pode diagnosticar e seguidamente traçar com mão firme o quadro clínico do masoquismo?

   Mulier tota in utero – dizia Paracelso. É por isso que todas as mulheres são masoquistas. O amor nelas começa pelo rebentar de uma membrana e leva até ao completo despedaçar do ser, no momento do parto. Toda a vida delas é simples sofrimento. O sofrimento ensanguenta-as mensalmente. A mulher encontra-se sob o signo da Lua, esse reflexo, esse astro morto, e é por isso que, quanto mais a mulher dá a vida, mais gera a morte. Mais do que símbolo da geração, a mãe é o símbolo da destruição. E qual é a mãe que não preferiria matar e devorar os filhos, se ela assim tivesse a certeza de reservar para si o macho, de o guardar, de se deixar imbuir por ele, de o absorver por baixo, de o digerir, de o macerar nela, de o deixar reduzido ao estado de feto e de o levar assim toda a vida no seu seio? Porque é precisamente a isso, à absorção, à reabsorção do macho, que leva a essa infinita maquinaria do amor. O amor não tem outro fim e, como o amor é o único móbil da natureza, a única lei do universo é o masoquismo. Destruição e nada – é nisso que se cifra esse derramamento inexaurível dos seres. Um ser vivo nunca se adapta ao seu meio, ou então, ao adaptar-se, morre. A luta pela vida é a luta pela não adaptação. Viver é ser diferente. É por isso que todas as grandes espécies vegetais e zoológicas são monstruosas. E a mesma coisa acontece no aspecto moral. O homem e a mulher não estão feitos para se sentenderem, para se amarem, para se fundirem e confundirem. Pelo contrário, detestam-se e dilaceram-se um ao outro; e se, nesta luta que tem o nome de amor, a mulher passa por ser a eterna vítima, na realidade é o homem que se mata e se torna a matar. Porque o macho é o inimigo, o inimigo desajeitado, desastrado, especializado demais. A mulher é todo-poderosa, encontra-se mais à vontade na vida, tem vários centros erotogénicos, sabe portanto sofrer melhor, tem maior resistência, a sua libido dá-lhe peso, é ela a mais forte. O homem é escravo dela, entrega-se, rebola-se-lhe aos pés, abdica passivamente. Ele padece. A mulher é masoquista. O único princípio de vida é o masoquismo e o masoquismo é um princípio de morte. É por isso que a existência é idiota, imbecil, vã. Não tem nenhuma razão de ser. É por isso que a vida é inútil.

    A mulher é maléfica. A história das civilizações mostra-nos os meios postos em acção pelos homens para se defenderem do relaxamento e de efeminação. Artes, religiões, doutrinas, leis, imortalidade são afinal outras tantas armas inventadas pelos machos para resistirem ao prestígio universal da fêmea. Infelizmente, essa vâ tentativa nunca dá nem nunca dará resultado algum, porque a mulher triunfa de todas as abstracções. No decurso das idades, mais tarde ou mais cedo, vemos todas as civilizações cambalearem, desaparecerem, ruírem, caírem no abismo prestando homenagem À fêmea. Raras são as formas de sociedade que conseguiram resistir a esta tendência durante um certo número de séculos, tais como o colégio contemplativo dos brâmanes ou a comunidade categórica dos astecas; as outras, como a dos chineses, só inventaram afinal modos complicados de masturbação e de orações para acalmar o frenesim feminino ou então – é o caso das comunidades cristãs e budistas – tiveram de recorrer à castração, às penitências corporais, aos jejuns, à clausura, à introspecção, à análise psicológica para dar um novo derivativo ao homem. Nenhuma civilização se conseguiu alguma vez esquivar à apologética da mulher, a não ser algumas raras sociedades de jovens guerreiros machos e ardentes, cuja apoteose foi tão rápida como breve – por exemplo as civilizações pederastas de Nínive e de Babilónia -, foram mais consumidoras do que criadoras, desconheceram o menor freio para a sua actividade febril, o menor limite para o seu imenso apetite, o menor marco para as suas necessidades e, por assim dizer, se devoram a si mesmas, desaparecendo sem deixar rasto; é assim que morrem todas as civilizações parasitárias, arrastando um mundo completo atrás de si. Não há um só homem, em cada dez milhões, que escape a esta obsessão da mulher. Se a assassinasse, vibrar-lhe-ia um golpe directo; e o assassinato foi ainda o único meio efizaz que cem centenas de milhares de gerações de machos e milhares e milhares de séculos de civilização humana descobriram para não sofrerem o império da fêmea. Quer isto dizer que a natureza não conheces o sadismo e que a grande lei do universo – criação e destruição – é o masoquismo.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

DJ ESTALINE QUER OUVIR O POVO!

Camaradas,

Aceitam-se propostas de músicas para serem analisadas pelo Comité Central no sentido de serem passadas esta próxima sexta-feira. Podem pôr nos comentários

Obs: Só se aceitam músicas até 1989, mais precisamente até à queda do muro de Berlim. Obrigado.

O Vosso Ditador Preferido,

DJ Estaline

...

ao contrário do que se possa pensar, em terra de cegos quem tem um olho é deficiente

one from the heart...

hmmmm

terça-feira, 6 de julho de 2010

DJ Estaline vai ditar leis no V5

Da direita para a esquerda: David Bowie, Elvis Presley, Iggy Pop, Tom Waits, Jim Morrison, Bob Dylan, Ian Curtis, Mick Jagger, Janis Joplin, Lou Reed, John Lennon, Nick Cave, Johny Cash, António Variações
(Clica para ver em tamanho grande)